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sexta-feira, 7 de junho de 2013

A Colina do Medo


"Tudo o que vemos ou parecemos / não passa de um sonho dentro de um sonho."
Edgar Allan Poe

Cena I

A Casa


Judy e Rubem decidiram que era chegada a hora de morar no campo, ter uma horta, um pomar e poder desfrutar da calmaria às seis da tarde tomando chimarrão na varanda apreciando a revoada de andorinhas e um por de sol que fosse  tão somente deles.

O casal tinha dois filhos: Ludmila com dezessete e Nicolas de nove.

Ludmila achou ótimo ter uma casa no campo e quem sabe (finalmente), seus pais a deixariam em paz e nem colégio ela precisasse mais frequentar.  Já para Nicolas o novo e o desconhecido eram seu infortúnio porque teria que deixar seus amigos e o time de futebol da escola.

Rubem encontrou uma casa já bem antiga no alto da Colina dos Eucaliptos e encantou-se por ela. Era uma construção sólida com três andares, revestida de pedra polida e fincada no meio do terreno. Em volta muito verde e pássaros à vontade sobrevoando a propriedade. Exatamente como ele sonhara.

Logo que vinha pela estrada de terra batida avistou a pequena serra que o levaria a Colina. A estrada era sinuosa, cheia de cascalhos e ladeada por canteiros naturais onde brotavam folhagens selvagens e flores do campo.

Ao estacionar sua caminhoneta percebeu que o corretor já estava à sua espera.

Cumprimentaram-se e foram entrando pela entrada principal cuja porta era de ferro feito origamis entrelaçados e havia outra portinhola de vidro por dentro que possuía uma tranca, possibilitando deixar o vidro entreaberto conservando a de ferro fechada.

A sala era ampla e mobiliada conferindo ao local, três ambientes distintos. Alguns dos sofás precisava urgente de reforma e a pintura estava descascada havia tempo.

A cristaleira, por incrível que possa parecer estava intacta e recheada de taças coloridas e lapidadas. Havia algumas tapeçarias  na sala de estar que faziam escurecer o ambiente e que Judy certamente as removeria.

O assoalho de tábuas largas em madeira de pinho escuro estava riscado e coberto por uma névoa de poeira e a mesa da sala de jantar só tinha uma das partes, já que era de vidro e os cacos (ainda) estavam sobre o assoalho.

O corretor tentou driblar esses detalhes:

_Como o senhor vê, a propriedade é muito boa, confortável e muito arejada - veja- somente nesta sala temos seis janelas

 Enormes, todas envidraçadas com entremeios de madeira e que facilmente abrem sobre os trilhos... (que estavam todos enferrujados) , e todas as salas possuem um diferencial  - dizendo e apontando para os arcos marmorizados que serviam como entremeios para as salas.

--Ah, mas claro Sr Ferreira, a casa é ótima, só precisa de alguns reparos - disse em tom jocoso meneando a cabeça.

Vamos à cozinha, preciso saber como ela está porque Judy hoje não pode vir e vai certamente crivar-me de perguntas.

-Ora, pois não senhor, vamos até lá, siga adiante.

A cozinha estava toda equipada .O fogão e a geladeira eram embutidos e muito antigos, além de estarem imundos.

 Os armários exibiam uma crosta acastanhada de gordura acumulada e as dobradiças estavam todas despencando. A pia era larga com duas cubas e o tampo era de granito bege.

A coifa estava bem grudenta  e os azulejos que eram brancos estavam mais para um marrom nojento.

O piso era antigo, feito de lajotas  bege e vinho e a janela sobre a pia ainda conservava uma cortina de voil que um dia foi branca e iluminada na transparência do tecido.

Depois de olhar os banheiros no andar térreo, subiram a escadaria de madeira que rangia um pouco e isso desagradou Rubem que revirou os olhos torcendo os lábios para o corretor. No andar superior havia um mezanino vazio, somente com um tapete abandonado e uma vidraça estilhaçada onde o sol pintava de laranja as paredes em tardes de verão.

Seguiram então pelo corredor onde avistaram os dormitórios, amplos e ensolarados. Sorte a deles porque a primavera já despontava e tudo iria ficar florido e alegre.

Os quatro dormitórios eram suítes e estavam sem mobília  bastante judiados pelo tempo que a casa ficara fechada. As paredes estavam manchadas de fuligem e Rubem estranhou aquilo, perguntando:

_O que houve aqui? Essa fuligem... Parece-me que aconteceu um incêndio por aqui...

_Imagine senhor, é mofo. A casa permaneceu fechada  por  dez anos.

Rubem perguntou sobre a parte hidráulica e elétrica e o corretor coçou a nuca em tom duvidoso.

_ Já sei, já sei - disse Rubem - isso fica por conta do novo proprietário, não é mesmo?

Rindo-se pelas costas e pensando nos cifrões que iria gastar ali.

 É senhor, desculpe... Não há como fugir!

Mais tarde, a família toda estava na colina observando a casa e todos mostravam uma animação para a reforma, menos Ludmila que continuava com seu fone de ouvido e um pequeno gravador nas mãos. Ela tinha a estranha mania de gravar tudo que via e ouvia. E quando  se sentia só e frustrada gravava também sua voz chorosa e falava sempre em sua morte que seria (para ela), prematura.

Ludmila era sombria e pálida. Seus cabelos eram negros e caíam em cachos até o meio das costas. Vestia-se de preto e tinha um rosto triste e desconsolado.

Seus pais tentaram de tudo pra que ela mudasse, mas em nada resultou e eles largaram mão.

Aonde ela ia levava aquele gravador e nele guardava suas angústias.

 
(...continua no ícone  das páginas ao lado)

Autoria by Lu Cavichioli

4 comentários:

  1. Boa tarde Lu... muito rico em detalhes. já começa bem pela frase do grande Edgar que li por demais .. um dia ainda espero fazer contos assim.. mas eu impaco e não saio do zero rsrs.. bjs e um lindo dia

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    1. Oi Samuel, boa tarde!

      Poxa, legal vc ter tido a paciência de ler meu conto rs
      Ah, pra quem faz sonetos lindíssimos feito você, com certeza se começar a treinar, vai escrever contos muito interessantes. Depende a temática e de como vai abordá-la.
      Empaca não kkkkkk

      bacios

      Lu

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  2. AMOREE.
    QUER ME MATAR?? EU A MEIIIIIIIIIIIII.
    ADORO SEUS DETALHES, NOS FAZ SENTIR DENTRO DA CASA, ANDANDO SOBRE O CHÃO RANGENDO E AS PAREDES ENCARDIDAS, QUASE SENTI O MOFO DO AMBIENTE.
    E AGORA?? CADE A CONTINUAÇÃO QUE VC DISSE TER AO LADO??

    AAHHH EU NAO ACHOOOOO. OU AINDA NAO TEM??
    BJS TO CURIOSA!
    PATTY.

    Obs: O problema era minha conexão mesmo que nao parava de cair.!

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    1. Patty, \ahhhhhhhhhh qté que enfim vc leu.Poxa eunaum via a hora de ler teus coments kkkkkk

      Mas naum tem continuação amoreco. O conto terminou.
      O que eu te disse que está ao lado san sidebar do blog são as páginas que eu abri, Olha, presta a tenção, qdo vc abre o blog, logo abaixo do meu perfil, você encontrar um ícone escritos PÁGINAS e o segue abaixo, vlocê escolhe o que quer ler e é so clicar. Veja lá, que vai encontrar a A COLINA DO MEDO, ENTRE OUTRAS PUBLICAÇÕES. Entendeu? kkkkk
      bacios lindeza!

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