*Quem conhece
minha literarura sabe que viajo através do fantástico mundo surreal e este
causo (desta contadora de histórias), é prova disso.*
(uma
parábola sertaneja/florilégio daquelas de arrepiar assombração)
Todas as tardes a
Sinhazinha sentava-se à sombra do Cajueiro e ali ficava cirandando metonímias e
desenhando estátuas de papel.
Tinha dias que ficava em sua cadeira de balanço, fincada ali
no alpendre olhando lagartas comedoras de samambaias.
A SINHAZINHA
QUE VIROU PÁSSARO MUSICAL
De noite o cajueiro se disfarçava em silêncio inquieto enquanto
a Sinhazinha se confundia com notas musicais e o novelo de lã virava borboleta.
O Cajueiro pensava que tinha brilho próprio porque todos que
passavam pela estrada do rancho paravam ali pra admirá-lo.
O CAJUEIRO
O novelo de lã que era borboleta confundia-se com teias de aranha e a Sinhazinha virava
bem-te -vi , pulando em pianos afinandos.
O NOVELO DE LÃ QUE VIROU BORBOLETA
Sinhazinha tinha um filho que era tocador de viola e
escrevia cartas de amor para as nuvens. De quando em vez cismava e montava em
seu alazão com chicote, cantil e sonhos de poeta golpeando na espora, o seu
galope certeiro sem olhar pra trás. Quando isso acontecia, ela ficava na janela
de cotovelos apoiados e mãos no queixo acenando saudades, e vendo homens com asas
de anjo. Então ela chorava, buscando acolhida no cajueiro que marcava encontros
noturnos com a borboleta que era novelo de lã.
FILHO DA SINHAZINHAIlustração: Juraci Dórea.
Certa noite, lá pelas bandas da cidade, bem longe da casa de
Sinhazinha, eu tomava meu velho e bom uísque no único bar local quando ouvi
alguém gritar: -“Valha-me Deus”! Então numa fração de segundos eu me virei olhando para a entrada dando de cara com uma figura sinistra.
Parado feito abóbora macabra em dia de halloween o homem
olhava a todos com certo olhar debochado e cínico. Sem demora tomei um
trago que desceu meio torto e fui logo perguntando ao jagunço Cabralzinho quem
era a figura.
O CURANDEIRIO
Cabralzinho era homem queimado de sol e pele craquelada.
Usava um chapéu amarelado que encobria sua juba encaracolada e fedida. Da sua
boca saia alguns sons fétidos e a falta de alguns dentes lhe conferia um
sorriso esquelético. Foi aí que ele me disse: ´-“Esse cabra é o curandeiro que
mora em Rio das Pedras... O moço num cunhece?”
JAGUNÇO CABRALZINHO
Balancei a cabeça em tom negativo e pensei comigo:
“CURANDEIRO”? ISSO AINDA EXISTE POR ESTAS BANDAS?
De repente a figura bizarra de barba comprida e negra e rosto sisudo sustentava um capuz com cara
de edredon patchwork, e uma capa
amarrada ao pescoço, aproximou-se perguntando por uma tal de Sinhazinha e onde
era o rancho dela.
O bar Man desconfiado botou copo e cachaça na bancada sem
mesmo o velho pedir e foi logo respondendo inocentemente:
“O rancho de Sinhazinha fica pra mais de algumas léguas
depois da Ponte do Chumbinho”(...) Mas pra mor de quê o senhor quer saber?
_Interessa não, filho de um cão! Cala essa latrina antes que
eu lhe amaldiçoe e tu vire um sapão daqueles bem verdes e pançudos.
SAPO VERDE E PANÇUDO
Eu saí de fininho e pus-me a correr em direção oposta à que
ele tinha perguntado. Depois disso, fiquei meses sem ter notícias daquele homem que mais
parecia personagem de um teatro mambembe.
Fiquei sabendo depois que o homem queria mesmo era conhecer
o cajueiro que virou fogueira de São João... Sabe-se lá por quê!?
Ô Coisa esquisita sô!
Esse causo ainda é contado através dos lampiões de gás do
século XXI e de tempos em tempos ainda posso ouvir o som da borboleta voando
sobre o cajueiro da Sinhazinha que tecia teias com o novelo de lã enrodilhado na
gaiola pendurada na toca do curandeiro.
Dizem que essa historieta virou imagem holográfica e viajou
universos.
... Caso estranho
esse! Talvez haja continuação, se eu conseguir
desenhar o mapa astral, escondido sob o
novelo de lã que a sinhazinha enterrou ao pé do cajueiro.
By Lu Cavichioli
Tenho para mim que a continuação está na barriga da lagarta comedora de samambaia. Resta esperar que ela vire borboleta ou mariposa ou bruxa ou fada. Alguma coisa há de sair do casulo.
ResponderExcluirPrazer voar com você, menina. Beijos.
Um conto bem criativo e bom de se ler.
ResponderExcluirBeijos.
Élys.
Você faz meus pensamentos alçarem um voo inesperado, com esse caminhar. Sinhazinha pintou o belo com aquele novelo de lã. E suas estátuas de papel adquiriram vida. O jeito é esperar que o mapa seja desenterrado (rss). Bjs.
ResponderExcluirLu,
ResponderExcluirfantástico seu conto, garota! Tá com tudo, hein??
Memórias de seres que habitam florestas... curandeiros, borboletas, jagunços, vc juntou tudo e fez um outro "novelo de lã", caprichado e muito bem conduzido!
Parabéns!
*Ah, e sabe que não deixei de dar boas risadas também com esse seu conto??rs...Teve seu lado de humor, uai!
Bacioss
kkkkkkkk verdade Gracinha, rimos juntas e caímos até da cadeira.
ResponderExcluirbacios
Oi Mari, espero que a Sinhazinha acorde e volte pra real. Ela é tão sonhadora...
ResponderExcluirSerá que haverá um mapa que leva ao tesouro? rs Pode ser... Talvez um capitulo II - vamos ver.
Obrigada, flor,pela visita e leitura
bacios
OI Élys, fico-lhe grata pela leitura!
ResponderExcluirabraços
RR, meu "muso" kkkk - olha que naum é má idéia que o casulo revele seu interior, assim tão cobiçado por olhos humanos.
ResponderExcluirEu também quero descobrir o que há la dentro!
bacios caríssimo!!
Olá, Lu. Adorei o conto e tudo virou vida. Vamos esperar a continuação! Parabéns! Obrigada pela carinhosa visita. Adoro vc!! Bjos e feliz semana.
ResponderExcluirLu , minha querida !
ResponderExcluiradorei seu conto . viajei junto com ele . achei incrivel sua habilidade para conduzi-lo de uma maneira bem humorada ,e a mesmo tempo salpicando poesia nas sequências .
De minha parte adoraria ler a continuação (ficarei atento)
Um beijo Gigante pra você !
Cidinha e Moisés, queridos
ResponderExcluirEsse conto veio (acho) do além... ele é muito louco e cada vez que leio, fico mais indignada com minhas próprias palavas. rs Mas eu amei que vcs vieram ler e dar suas opiniões.
Obrigada e meu afeto pra vocês
bacios aos dois
:)
... Quem sabe o novelo de lã possa conversar com a Sinnhazinha e juntos desvenderam mistérios do cajueiro?! Né? rsrs