Era uma casa muito esquisita, até tinha teto, mas dentro não tinha nada. Todo mundo podia nela entrar porque a casa tinha parede, chão e janela. A gente podia até dormir na rede e fazer xixi porque banheiro havia ali. Ela era feita com madeira, edredons e bagatelas adocicadas. Uma hora era suntuosa, outra era favela. Reboco na parede e caibros no chão batido e sofrido.
Nessa casa o lobo mau não tinha fôlego suficiente pra derrubar e nem porquinhos pra se alimentar e chapéuzinho não era vermelho, era transparente e suficientemente cautelosa na hora dos docinhos levar.
Certo dia caiu num buraco invadindo maravilhas de gatos coloridos e rainhas suculentas onde o chá era servido exatamene às 5 da tarde em mesa chapeleira , recheada de maluquices.
Correu por entre a relva vestindo capuz vermelho só pra disfarçar , porque o coelho apressado a queria raptar.
Noutro dia caiu da torre um mundaréu de cabelo trançado e aloirado, onde príncipes e ladrões roubavam a cena da mocinha desesperada.
As bruxas continuavam voando e olhando-se nos espelhos e as frutas envenenadas caiam das árvores podres esquecidas pelos anões garimpeiros.
No silêncio da mais alta torre da terra, dormia enfeitiçada princesa, que sonhava com dois vestidos: um rosado e outro azulado. Frutos do pó de pir lim pimpim em voos graciosos de madrinhas que eram fadas.
Os príncipes reunidos na taverna embebedavam-se de sonhos enquanto suas amadas esperavam a justiça no garboso galope branco da paz.
Enquanto isso, na biblioteca das fantasias, traças contavam histórias para as carochinhas de plantão que tudo iam gravando, inventando e desenhando para quem sabe contar num futuro nem tão distante assim que Branca de Neve, um dia se apaixonaria pelo caçador e a rainha má ficaria cativa para sempre dentro do espelho dos horrores.
De repente ouve-se um miado. Era nada de mais não... Somente uma gata, a GATA BORRALHEIRA que lustrava pisos e cetros. Dormia e acordava com pássaros e mantinha amizade juvenil com ratinhos costureiros.
Depois veio uma abóbora gigante que cantava SALAGADULA MEXICABULA BIBIDIPOBIDIBU ISSO É MAGIA ACREDITEM OU NÃO BIBIDIPOBIDIBU... Que transformou andrajos em rendas, sedas e tules. Pena que o cristal ficou nas escadarias, tão solitário, coitadinho. Mas o pézinho outrora órfão ganhou castelos e bobos da corte em companhia real.
Agora virem a página e quem quiser que conte outra!
by Lu Cavichioli