Todos os Direitos Resevados à Lu Cavichioli

Creative Commons License Todos os trabalhos aqui expostos são de autoria única e exclusiva de Lu Cavichioli e estão licenciadas por Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported License. Não comercialize os trabalhos e nem modifique os conteúdos Se quiser reproduzir coloque os devidos créditos

sábado, 20 de abril de 2013

A Mansão dos Gatos


ATO  I -  A DESCOBERTA




De longe eu avistava os portões. Era de um azul macilento, exibindo letras góticas ,bordadas no cinza esbranquiçado gasto pelo tempo.

Eu caminhava rápido, sentindo o hálito cruel da noite que engolia as batidas sôfregas do meu coração. O vento penetrava meus ossos, fazendo gemer as articulações quando me dei conta que estava plantado em frente ao casario.

De construção lúgubre, oferecia aos olhos um espantoso cenário do mais nobre terror hollywoodiano. Forcei os portões que abriram sem nenhuma resistência, e um raio laminal   deu-me boas vindas. Meio atordoado pelo estrondo percebi uma escada que dava certamente para a sala principal. Gritei então um ô de casa e fui entrando, e logo ouvi um gélido: BOA NOITE!!!!!! No alto da escada vi uma mulher de corpo longilíneo, cabelos cor do fogo, curtos e meio tosados, trazendo nos braços um raro e assustador espécime de gato persa. Fiquei hipnotizado por alguns segundos, meus olhos rodopiaram e logo a maquiavélica figura se fazia presente na minha frente. Dei um salto para trás, quando ela perguntou: - O que quer?

Sua cabeça -  eu disse, em tom metálico, ainda duvidando disto. Então aqueles olhos bruxuleantes sorriram diante da minha persona, agora patética, convidando-me para o jantar.

 

ATO II – A LAZANHA

 

Quando entrei na cozinha avistei sobre o guarda comidas um felino negro com esmeraldas no olhar que resolveu encarar-me na sua totalidade, quase que impedindo minhas ações. Sentei-me e logo senti o aroma da iguaria que estava sendo retirada do forno.

Fumegando, a travessa foi colocada sobre a mesa, e logo fui avisado que era uma lazanha vegetariana, pois um dos convidados não comia carne. CONVIDADOS?  Como assim?

Com toda sua falsa delicadeza  e  pernas de saracura , a dona da casa, recebeu mais duas pessoas, e todos nos sentamos para degustar o prato.

O jantar não foi tão ruim, mas já trabalhei com melhores. O importante é que estava ali e teria que cumprir minha missão.

 
 

ATO III – PÊLOS  NO SOFÁ

 
Moncye, como era conhecida a dona da casa, falava agora de poesia. Eu ria interiormente, ouvindo suas críticas embasadas em comentários filosóficos de quem lê Neruda em espanhol. E eu, parado, pregado no sofá, sorvia o frio negrume do café requentado.

Quando percebi que minha calça, casaco e todo o resto naquela sala estavam atolados em pêlos, de várias cores e tamanhos, eles dançavam no ar, provocando minha rinite e  paciência.

Os outros dois convidados, um homem de estatura mediana, barba serrada, pele rugosa e rosada e com seqüelas de acne, ria muito, enquanto a mulher ao lado dele, metida num tomara que caia branco, ostentando cabelos negros escorridos e tímidos segurava um angorá branco  embalando como um recém-nascido. Eu olhava tudo com nojo e arrependimento, porém algo me dizia que seria interessante eu continuar ali colhendo dados importantes para minha pesquisa.
 

ATO IV – O REBENTO MALVADO


Logo depois do café com gato, a porta se abriu e com ela uma rajada de vento que colocou para dentro mais um personagem. Entrou meio aturdido com cara de boneco de mola e olhos de bolas de gude mesclados em verde azulado. Usava uma calça jeans surrada e uma camiseta colada ao corpo revelando uma saliência abdominal adquirida provavelmente por litros de coca-cola e alguns big-macs.

Logo a mãe coruja ora felina, nos apresentou sua cria que sorriu realçando a brancura dos dentes, dizendo um olá a todos e logo desaparecendo escada acima.

 

ATO V – PORTENHOS NO QUINTAL


Para completar a cena, a campainha gritou. Eu estava na cozinha tentando investigar pistas e colhendo dados para meu artigo abstrato, porém concreto em meu cérebro refinado, quando ouvi um sotaque galego... cocei a fronte revirando os olhos, pigarreando.

 Logo avistei no hall dois homens e uma mulher de aparência cigana, desses que leem a mão, adivinhadores da vida alheia. Fomos apresentados enquanto os gatos miavam eriçando pêlos e unhas. Com o estômago revirado fui levado para o quintal  abraçado pelo homem de rosto rosado com cicatrizes de acne , levado pela mão por sua amiga tímida.

Não sei o que havia escondido naquele quintal, só sei que todos estávamos ali agora em meio a vasos e plantas, e uma tartaruga imaginária que insistia em se esconder entre as folhagens.


Eu olhava com asco aqueles ciganos de aparência seborréica. Tinham os cabelos compridos e despenteados. A mulher vestia saia longa e solta, florida em sua totalidade, exibia também um corpete branco cheio de laçarotes. Os homens, dominados pelo cigarro, falavam baixo e rápido e em sua linguagem portenha eu nada podia entender. Pareciam maltrapilhos. Usavam chinelos ou sandálias(até hoje não sei bem o que era aquilo), de um tecido rugoso e  de tons acastanhados. Um deles usava uma boina típica do Che Guevara.

A cena final caracterizou-se desta forma: Os três maltrapilhos sentados no chão, a dona da casa na soleira da porta, e eu e os convidados apoiados na mureta que embutia o bujão de gás.

Na cozinha os gatos e a lasanha.


EPÍLOGO


De repente fui convidado a visitar o andar superior. Passei em frente a uma estante onde tranquilamente dormiam dois felinos, um branco e um malhado. Eram desses gatos vira-latas que miam para a lua e gemem de madrugada debaixo das janelas.

Sem demora subi as escadas acompanhada da saracura e da tímida que me  levaram até o computador onde tive que ler alguns poemas anárquicos, escritos devassos que sutilmente à primeira vista revelavam um lirismo tosco.

Enfim,  e já sem tempo, as despedidas!! Saí exatamente como entrei. Assustado e só, nem desconfiando que  alguns anos à frente,  eu iria descobrir tudo sobre a colecionadora de gatos.

 by Lu C.

*direitos reservados*


 

 

 

 

 

4 comentários:

  1. Olá, Lu. Uma história fascinantes, com um toque de surrealismo. Gostei da sua maneira de narrar, e confesso que lembrei-me de um sonho que tive, uma vez - talvez por isso eu tenha associado o conteúdo ao surreal. Muito bom!

    ResponderExcluir
  2. muito boa a história, flui sem maiores compromissos com explicações e por isto torna-se muito instigante. adorei! boa semana


    http://eubipolarbuscandoapaz.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. AII MEU DEUS.

    VAI CONTINUAR NE?

    AMEIII CADA PEDACINHO, ESPECIALMENTE A DESCRIÇÃO DE CADA PERSONAGEM, ADOREI OS DETALHES DE CADA UM, TOTALMENTE DIFERENTES QUE VEJO POR AI, E ENTRE ELES SEM NENHUM PARECER COM O OUTRO, O QUE DEIXOU COM AR MAIS MISTERIOSO AINDA.
    AII DETESTO GATOS, MORRO DE MEDO, POR ISSO TORNA MAIS ATRAENTE.

    VONTADE DE ENGOLIIIIIIRRRRR.

    BJS, ADOREI

    PATTY.


    AHHH da uma passadinha no chocolatras e vai conhecer minha fofinha sobrinha linda, LORENA. que coisa mais deliciosa. to apaioxonada por ela.

    FUI.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. kkkkkkkkkkkk Ai Patty, naum vai continuar... Pelo menos por agora! rs

      Acredita que esse contoa eu criei a partir de uma visita a essa casa dos gatos. ODEIO GATOS TB!! ecaaaaaaa

      Depois te conto os detalhes!

      bacios

      Excluir

Bem vindo ao Escritos na Memória

Deixe seu comentário, eu gostaria imensamente saber tua opinião

Obrigada