ATO I - A DESCOBERTA
Eu caminhava rápido, sentindo o
hálito cruel da noite que engolia as batidas sôfregas do meu coração. O vento
penetrava meus ossos, fazendo gemer as articulações quando me dei conta que
estava plantado em frente ao casario.
De construção lúgubre, oferecia
aos olhos um espantoso cenário do mais nobre terror hollywoodiano. Forcei os portões que abriram sem nenhuma
resistência, e um raio laminal deu-me
boas vindas. Meio atordoado pelo estrondo percebi uma escada que dava
certamente para a sala principal. Gritei então um ô de casa e fui entrando, e logo ouvi um gélido: BOA NOITE!!!!!!
No alto da escada vi uma mulher de corpo longilíneo, cabelos cor do fogo,
curtos e meio tosados, trazendo nos braços um raro e assustador espécime de
gato persa. Fiquei hipnotizado por alguns segundos, meus olhos rodopiaram e
logo a maquiavélica figura se fazia presente na minha frente. Dei um salto para
trás, quando ela perguntou: - O que quer?
Sua cabeça - eu disse, em tom metálico, ainda duvidando disto.
Então aqueles olhos bruxuleantes sorriram diante da minha persona, agora
patética, convidando-me para o jantar.
ATO II – A LAZANHA
Quando entrei na cozinha avistei
sobre o guarda comidas um felino negro com esmeraldas no olhar que resolveu
encarar-me na sua totalidade, quase que impedindo minhas ações. Sentei-me e
logo senti o aroma da iguaria que estava sendo retirada do forno.
Fumegando, a travessa foi colocada
sobre a mesa, e logo fui avisado que era uma lazanha vegetariana, pois um dos
convidados não comia carne. CONVIDADOS? Como assim?
Com toda sua falsa delicadeza e pernas de saracura , a dona da casa, recebeu
mais duas pessoas, e todos nos sentamos para degustar o prato.
O jantar não foi tão ruim, mas já
trabalhei com melhores. O importante é que estava ali e teria que cumprir minha
missão.
ATO III – PÊLOS NO
SOFÁ
Moncye, como era conhecida a dona
da casa, falava agora de poesia. Eu ria interiormente, ouvindo suas críticas
embasadas em comentários filosóficos de quem lê Neruda em espanhol. E eu,
parado, pregado no sofá, sorvia o frio negrume do café requentado.
Quando percebi que minha calça,
casaco e todo o resto naquela sala estavam atolados em pêlos, de várias cores e
tamanhos, eles dançavam no ar, provocando minha rinite e paciência.
Os outros dois convidados, um
homem de estatura mediana, barba serrada, pele rugosa e rosada e com seqüelas
de acne, ria muito, enquanto a mulher ao lado dele, metida num tomara que caia
branco, ostentando cabelos negros escorridos e tímidos segurava um angorá
branco embalando como um recém-nascido.
Eu olhava tudo com nojo e arrependimento, porém algo me dizia que seria
interessante eu continuar ali colhendo dados importantes para minha pesquisa.
ATO IV – O REBENTO MALVADO
Logo depois do café com gato, a
porta se abriu e com ela uma rajada de vento que colocou para dentro mais um
personagem. Entrou meio aturdido com cara de boneco de mola e olhos de bolas de
gude mesclados em verde azulado. Usava uma calça jeans surrada e uma camiseta
colada ao corpo revelando uma saliência abdominal adquirida provavelmente por
litros de coca-cola e alguns big-macs.
Logo a mãe coruja ora felina, nos
apresentou sua cria que sorriu realçando a brancura dos dentes, dizendo um olá
a todos e logo desaparecendo escada acima.
ATO V – PORTENHOS NO QUINTAL
Para completar a cena, a campainha
gritou. Eu estava na cozinha tentando investigar pistas e colhendo dados para
meu artigo abstrato, porém concreto em meu cérebro refinado, quando ouvi um
sotaque galego... cocei a fronte revirando os olhos, pigarreando.
Logo avistei no hall dois homens e uma mulher
de aparência cigana, desses que leem a mão, adivinhadores da vida alheia. Fomos
apresentados enquanto os gatos miavam eriçando pêlos e unhas. Com o estômago
revirado fui levado para o quintal abraçado pelo homem de rosto rosado com
cicatrizes de acne , levado pela mão por sua amiga tímida.
Não sei o que havia escondido
naquele quintal, só sei que todos estávamos ali agora em meio a vasos e
plantas, e uma tartaruga imaginária que insistia em se esconder entre as
folhagens.
Eu olhava com asco aqueles ciganos
de aparência seborréica. Tinham os cabelos compridos e despenteados. A mulher
vestia saia longa e solta, florida em sua totalidade, exibia também um corpete
branco cheio de laçarotes. Os homens, dominados pelo cigarro, falavam baixo e
rápido e em sua linguagem portenha eu nada podia entender. Pareciam
maltrapilhos. Usavam chinelos ou sandálias(até hoje não sei bem o que era
aquilo), de um tecido rugoso e de tons
acastanhados. Um deles usava uma boina típica do Che Guevara.
A cena final caracterizou-se desta
forma: Os três maltrapilhos sentados no chão, a dona da casa na soleira da
porta, e eu e os convidados apoiados na mureta que embutia o bujão de gás.
Na cozinha os gatos e a lasanha.
EPÍLOGO
De repente fui convidado a visitar
o andar superior. Passei em frente a uma estante onde tranquilamente dormiam
dois felinos, um branco e um malhado. Eram desses gatos vira-latas que miam
para a lua e gemem de madrugada debaixo das janelas.
Sem demora subi as escadas
acompanhada da saracura e da tímida que me
levaram até o computador onde tive que ler alguns poemas anárquicos,
escritos devassos que sutilmente à primeira vista revelavam um lirismo tosco.
Enfim, e já sem tempo, as despedidas!! Saí
exatamente como entrei. Assustado e só, nem desconfiando que alguns anos à frente, eu iria descobrir tudo sobre a colecionadora
de gatos.
Olá, Lu. Uma história fascinantes, com um toque de surrealismo. Gostei da sua maneira de narrar, e confesso que lembrei-me de um sonho que tive, uma vez - talvez por isso eu tenha associado o conteúdo ao surreal. Muito bom!
ResponderExcluirmuito boa a história, flui sem maiores compromissos com explicações e por isto torna-se muito instigante. adorei! boa semana
ResponderExcluirhttp://eubipolarbuscandoapaz.blogspot.com.br/
AII MEU DEUS.
ResponderExcluirVAI CONTINUAR NE?
AMEIII CADA PEDACINHO, ESPECIALMENTE A DESCRIÇÃO DE CADA PERSONAGEM, ADOREI OS DETALHES DE CADA UM, TOTALMENTE DIFERENTES QUE VEJO POR AI, E ENTRE ELES SEM NENHUM PARECER COM O OUTRO, O QUE DEIXOU COM AR MAIS MISTERIOSO AINDA.
AII DETESTO GATOS, MORRO DE MEDO, POR ISSO TORNA MAIS ATRAENTE.
VONTADE DE ENGOLIIIIIIRRRRR.
BJS, ADOREI
PATTY.
AHHH da uma passadinha no chocolatras e vai conhecer minha fofinha sobrinha linda, LORENA. que coisa mais deliciosa. to apaioxonada por ela.
FUI.
kkkkkkkkkkkk Ai Patty, naum vai continuar... Pelo menos por agora! rs
ExcluirAcredita que esse contoa eu criei a partir de uma visita a essa casa dos gatos. ODEIO GATOS TB!! ecaaaaaaa
Depois te conto os detalhes!
bacios