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quinta-feira, 29 de março de 2012

Em protesto, a propósito, surdo e mudo...



Não costumo falar nem escrever sobre política, mas costumo enjoar quando ouço ou leio algo referente a ela. Justamente porque os politiqueiros engravatados nesse país só sentem a sede de justiça para si próprios.

Abdiquei da escolha em ver telejornais porque eles falam de sangue /lágrimas do começo ao fim. Não há nada que se aproveite. E nada contra ao jornalismo nem à liberdade de imprensa que muito nos ajuda nessa vastidão caótica que embala um menino/velho chamado Brasil.

As vezes prefiro ficar sonhando em minhas letras que são construídas lá no fim do arco-íris, onde deve existir um mundo azul (de verdade), sem estar desbotando e agonizando nos gases mortais que invadem suas narinas. Lá devem viver criaturas brancas , com laços nos cabelos e vestidos esvoaçantes. Seres com asas que pairam no ar tocando pífaros , onde existe uma ponte para a lua e de lá um trampolim para o universo.

Outro dia fiquei a observar os segmentos culturais de nosso país ( mas nunca perdendo de vista os outros segmentos não menos importantes.
São Paulo é o berço da cultura justamente por ser uma megalópolis cultivada por mãos que sentem a dor do desabrigo e desafeto e sem nehuma escolha para a dignidade de uma vida mais justa.

Vejam na música o que está acontecendo. UM ASSOMBRO! Escutamos letras miseráveis, sem nutrição das notas musicais, porque elas simplesmente perderam-se no tempo.

As novelas ,decaindo na ambição absurda de alcançar audiência, utitilizando instrumentos sórdidos em corromper mais nossa sociedade, principalmente os jovens.
Surtos de reality-shows,manchando privacidades e instigando luxúrias.
Os autores acham(ou pensam) que mostrando os escárnios da parafernália humana, podem preservar ou proteger as lambidas no fundo da panela dos horrores. Os crimes hediondos dão picos de audiência. Os traficantes passeiam garbosos nas calçadas pintadas com pegadas assoladas pelo maldito "barato" das viagens alucinantes, nas noites turbulentas e pavorosoas dos coquetéis psicodélicos da morte em gotas.

Leitura então nem se fala. Nem sei direito a estatísitica dos leitores no Brasil, mas deve ser 30%, sei lá. Ler pra quê, se minha barriga anda vazia?  Ler porquê se eu não aprendi... E posso parar de ter fome se fumar uma pedrinha?
Futebol arte NUNCA MAIS! O que vemos é 22 desorientados trombando por um naco de bola a entrar na boca ávida das redes e o grito engasgado dos supostos cidadãos felizes vivendo no país do carnaval, molhando a garganta com cevada gelada, fingindo que a felicidade vem com coelhinhos da páscoa e da playboy . Ah, e não  esqueçam   dos   abraços do bom velhinho que aparece todo fim de ano "abarratodado" com siglas e sifras estrondosas. Deixando-nos mais surdos, mais cegos e mais cansados.
E depois de se empapuçarem com tantos gritos silenciosos, saem para a diversão  pré- histórica que é surrar e/ou matar adversários que vestem uma camisa diferente, onde a cor torna-se assassina. Por favor, alguém diga a eles    que   as cores apenas iluminam o arco-íris.

Acorda BRASIL
despertem os BRASILEIROS
*sem querer acho que cometi o pecado da política. ECA! :(

Como sou poeta , ando  de  vez enquando  lá pelas bandas do arco-íris pra escrever algo e trouxe pra vocês alguns poemas de cunho social.




Quando o Camaleão tem Fome


Na alegoria das cores

ouso trocar minha roupa,

dançando sobre

metarmofoses do mimetismo.



No país das árvores

filhas do pau-brasil,

insetos fossilizados

não bastam...


Línguas continuam

vazias....


Barrigas órfãs!:


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Duendes em solo alheio



Florestas de bronze

espalham-se em tiras de madeira

na confusão amena

das libélulas.

Nas asas flutuantes

e acesas,

a liberdade tinge

de mel as idades.

E os meninos alados

fingem que a fome

é um sonho!

by Lu Cavichioli

segunda-feira, 19 de março de 2012

Revirando a Memória

31 de dezembro de um feliz ano velho


Um texto recuperado lá do fundo (falso), acho, do meu baú! Hehehe...

Era o último dia do ano e as músicas napolitanas cantavam em fitas K-7 em meu gravador AIWA.

Vozes masculinas comentavam sobre a corrida de São Silvestre, um privilégio dos homens ( ainda - tão somente).

Os engradados de cerveja eram retirados do carro e as garrafas (bem lavadas), coisa da minha mãe, claro, tomavam acento na geladeira.

Eu  e o Afonso, meu primo mais velho, ríamos de nossas brincadeiras infantilizadas em nossa juventude bendita e santa. Brincadeiras estas que felizes, repousam no convés do passado em marés distantes. Ah, quanta saudade!

Minha avó e minha mãe compunham um dueto a quatro mãos na confecção dos quitutes que fartariam nossa mesa no reveillon  de um ano velho que insistia em ficar idoso, mesmo antes de nascer. (coisa esquisita isso , não?)

Logo mais chegariam minhas tias e a “primaiada” ficaria completa.

Meu pai quebrava nozes em nosso bale particular e meu avô ajudava no esvaziar das garrafas de cerveja. Meu tio mais novo chegava (esbaforido), carregando o Moisés com a mais nova integrante da família, a prima Claudinha.

Eu, um tanto ansiosa , em meus 22 anos, espiava de quando em vez ali pela janela da sala, pra ver se meu namorado apontava lá na esquina.

As iguarias iam sendo enfileiradas na mesa e no balcão da cozinha.

Se eu quisesse agora, poderia ouvir e ver ,(como ouço e vejo), as vozes, os sorrisos, os abraços, a felicidade, o amigo secreto com mico e tudo se alguém errasse ... E de fundo o assobio do meu velho avô e suas cançonetas napolitanas...

A torta de salame e queijo branco (tradição da família) saía do forno, garbosa, exibindo aquele aroma italiano do orégano.

O tender e os frangos de leite que só minha avó sabia temperar, coser e decorar eram colocados em bandejas no centro da mesa e tudo ia sendo rabiscado com o giz do amor e da união. Tudo isso se aglomerava às sobremesas inesquecíveis da tia Isaura e as decorações surreais da tia Lia.

Os gritos dos primos mais novos que corriam na folia da infância juntavam-se com as gargalhadas dos adolescentes e como em uma moldura ficavam estampadas nas paredes  da casa de pastilhas verdes que tudo viam e registravam.

Nós nem nos importávamos com o tempo, esse  ladrão de idades ,que nos assaltaria em silêncio juntamente com o destino pregando-nos peças sem pedir licença ano após ano. Desenhando traços em nossos rostos, colorindo de paz alguns fios de cabelo, desabrochando rosas e murchando tantas outras.

Com esse tal de tempo a modernidade cresceu tornando-se uma moça soberba e lúdica, de olhar horizontal  e mãos carpideiras. Suas ideias foram tomando conta do tempo e, das “velharias”, fez  retalhos, que guardou em  algum cofre sepultado pelo chumbo ardiloso do esquecimento.

Essa moça, ( a tal Modernidade), trouxe com ela um filho chamado Progresso que teve uma filha chamada Tecnologia. E essa “família” furtou de certa maneira os valores outrora ensinados. Devo me lastimar? Acho que não, porque assim caminha a humanidade  disse alguém em algum dia, a passos de formiga e sem vontade(...)

Adeus ao admirável mundo novo...

By Lu C.

Em tempos outros