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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Lá vem ela...

... Maria Tapioca na Fábrica de Histórinhas!




Em uma noite dessas em que a lua fulgura fagulhas imantadas eu pensei ter sonhado com uma menina ranheta, invocada e quem sabe... Desconfiada. Mas na verdade não era sonho não, gente... Era ela mesmo em carne e osso batendo em minha porta de madrugada, dependurada num Jeep amarelo ocre.

Corri esbaforida para ver de quem se tratava. Abri a porteira e lá estava, plantada em meu alpendre, uma figura atarracada, de pernas curtas e cabelos trançados. Falava baixo com voz de anjo, mas no rosto trazia fogo nas bochechas. Vociferava palavras confusas e escrevia sem parar em uma caderneta metalizada.

Eu a cumprimemtei e ela assentiu com a cabeça esboçando sorriso amarelo. Daí já meio irritada indaguei:

_Quem é você e o que faz na porta de minha casa a estas horas da madrugada?
Ela retrucou:

_ora ora... eu sou um jamelão num tá vendo?

Mal educada a moçoila?

Retorcendo a boca e revirando os olhos, fiz cara de bugre e perguntei se ela queria apear e passar a noite ali , explicando o motivo de sua aparição.

Ela saiu do jeep e foi entrando como se a casa fosse dela e ela conhecesse cada canto. UM ESPANTO!

Entrou e foi logo em direção a um quadro que eu tinha na parede. A paisagem exibia uma pintura morta entre frutas e jarros de barro. Ela olhou, tocou , dizendo:

Raios me partam, o que leva uma pessoa a ter um quadro desses na parede? Peras e maçãs sobrepostas ao lado de jarros velhos e uma toalha manchada? Porque não colocaram aí um vaso de samambaias com lagartas mascando chicletinho verde e sambando desengonçada em suas mil perninhas? Bahhhh - porcaria!

Eu já irritada, dei um prestenção na pirralha:

-Ei, você tá muito abusada pra quem apeou de um Jeep tipo lataria velha e decaída, no meio da madrugada, interrompendo meu sono perfeito de amores nessa inquietação de mal-humor, sua... Sua... coisinha triste!?

Ela baixou os olhos conservando a carranca dizendo:
Se preferir posso sair e dormir no Jeep, nem to aí pra você! Só não mexa em meus escritos meio egípcios colados na caderneta de epopéias, "tendeu"!!?

Eu já estourando em chuvas e trovoadas, empurrei-a porta afora, jogando-lhe um cobertor e uma mamadeira contendo leite com Nescau. Não esquecendo, da caderneta das importâncias e... Pensando com meus botões: "que tanto ela quer proteger dentro desse emaranhado de papéis contorcidos e quem sabe composto de letras crônicas"?

Voltei para minha cama deixando o abajur aceso, refletindo visões em 3D.

by Lu C.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Em cena, na Fábrica de Histórinhas...

... Maria Pão de Açúcar!



Esta Maria de doce não tem nada, só o nome mesmo. Devo confessar que quando a conheci, sentamos juntas em um desses butecos espalhados pela orla marítima e ali ficamos a desfiar nossa meada procurando pelo fio da mesma.

Ela pediu um chopp claro.
Eu, uma água de côco.

Tecemos então colcha de retalhos, porém faltou-me alinhavo suficiente para que a peça ficasse de bom tamanho e apresentável. Foi aí que olhei de lado e vi que tinha perdido minha caixa de costura e precisei desculpar-me por tamanha falta de senso.

Ela olhou-me de soslaio.
Eu a encarei!

Depois desse enlace entre/olhos, me vesti de colombina e fui ao Morro de São Cristóvão compor um samba com Dom Curió.

A moça desmanchou-se em açúcares.
Eu, sambei a noite inteira.

Noutro dia eu soube que ela tinha usado a roca de fiar, justamente pra ver se conseguia a colcha terminar. Contudo, a pobre colcha tinha ficado órfã de açúcar e côco...
Depois dessa decepção, Maria Pão de Açúcar sumiu de circulação, mostrando sua doçura indômita de quando em vez e somente a quem ela escolhesse... Esperta, a moça!
Eu faria o mesmo se alguém me deixasse plantada, criando raízes expostas à pegadas desumanas.

Maria aboletou-se em casa de campo.
Eu, soltei as feras.

Passado alguns anos Maria Açucarada semeou olhares perpendiculares em seus campos de estrelas, colhendo sorrisos e abraços que ela enrolava dentro de um envelope bordado por Iemanjá. Depois fazia dele um aviãozinho de papel e pedia permissão à torre para levantar voo, indo talvez coser universos internos.

Maria Pão de Açúcar, virou pó de estrelas
Eu, comprei um pilão e fui amassar poesia

by Lu C.

Na Fábrica de Histórinhas...

... As três Marias!
Na pauta de hoje:


MARIA IDEAL




As Marias eram apenas três menininhas comportadas que estrelavam telas de cinema em sépia, totalmente descoloridas, porém em cada interior conservavam as cores que  adoçaram a boca do sabiá carcará, aquele que pega mas não mata e nem come, apenas adula.

As Mariazinhas viviam sua vidinha costumeira e um tanto tediosa, e no entanto eram cantadoras de cantigas de roda e brincavam de amarelinha quando se encontravam num arrastapé local em algum lugar do planeta.

Um dia me contaram sobre Maria Ideal, mocinha comportada, educada e letrada. Nasceu pronta a moçoila, com perninhas bronzeadas e sorriso Colgate. 

Em suas lembranças dançavam alguns retratos antigos como um balaio onde ela repousava (ainda), seu espírito de criança em tardes alaranjadas colhendo fruta no pé.

Soube que ela viajou léguas, mudou de endereço e virou deusa de rara beleza, estraçalhando corações.
Contudo, ela gostava mesmo era de tecer teias férteis e decorativas que transformava em mandalas mágicas e seus poderes eram parecidos com os da Família Maia, aqueles findadores de mundos.

Maria Ideal conjugava verbos e adagas amalgamando álbuns fotográficos, mesmo porque sua figura lembrava Danae a deusa da fonte que dava de beber aos pobres de espírito.

Contam também que possuía , Maria Ideal, uma voz maviosa, macia e totalmente clean e sem pigarrear uma só vez, declamava sons alusivos de poetas arcaicos, prosaicos e maduros na estatura do ser.
Ela morava num castelo fincado no horizonte, e de lá espiava o mundo.

Aguardem as outras Marias, ou em edição extraordinária mais um tiquinho da vida de Maria Ideal.
 Vem muito mais por aí!

...
by Lu C.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Enseada (um poema tímido)

 
No furor da espuma
há o canto submerso do desconhecido
E na leveza do breve remanso -
um descanso de ondas
Eterno pulsar
Coração do mar

by Lu C.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Com muito AMOR

Queridos, para reabrir o Escritos na Memória, escolhi falar de AMOR - para tanto , trouxe meu poeta preferido, meu patrono poético: VINÍCIUS DE MORAES.

Agarrado a ele veio o Soneto da Fidelidade, onde declama ao som do piano de Tom Jobim.
Precisa mais?


SONETO DA FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

CARINHOSAMENTE
BY LU C.