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quinta-feira, 28 de junho de 2012

O Cajueiro, a Sinhazinha e o Novelo de Lã


*Quem conhece minha literarura sabe que viajo através do fantástico mundo surreal e este causo (desta contadora de histórias), é prova disso.*


(uma parábola sertaneja/florilégio daquelas de arrepiar assombração)

Todas as tardes  a Sinhazinha sentava-se à sombra do Cajueiro e ali ficava cirandando metonímias e desenhando estátuas de papel.
Tinha dias que ficava em sua cadeira de balanço, fincada ali no alpendre olhando lagartas comedoras de samambaias.






A SINHAZINHA





 QUE VIROU PÁSSARO MUSICAL
 



 



De noite o cajueiro se disfarçava em silêncio inquieto enquanto a Sinhazinha se confundia com notas musicais e o novelo de lã virava borboleta.

O Cajueiro pensava que tinha brilho próprio porque todos que passavam pela estrada do rancho paravam ali pra admirá-lo.






O CAJUEIRO
 
O novelo de lã que era borboleta confundia-se  com teias de aranha e a Sinhazinha virava bem-te -vi , pulando em pianos afinandos.


O NOVELO DE LÃ QUE VIROU BORBOLETA
 
 
 
Sinhazinha tinha um filho que era tocador de viola e escrevia cartas de amor para as nuvens. De quando em vez cismava e montava em seu alazão com chicote, cantil e sonhos de poeta golpeando na espora, o seu galope certeiro sem olhar pra trás. Quando isso acontecia, ela ficava na janela de cotovelos apoiados e mãos no queixo acenando saudades, e vendo homens com asas de anjo. Então ela chorava, buscando acolhida no cajueiro que marcava encontros noturnos com a borboleta que era novelo de lã.


FILHO DA SINHAZINHAIlustração: Juraci Dórea.
 
 
Certa noite, lá pelas bandas da cidade, bem longe da casa de Sinhazinha, eu tomava meu velho e bom uísque no único bar local quando ouvi alguém gritar: -“Valha-me Deus”! Então numa fração de segundos eu me virei  olhando para a entrada  dando de cara com uma figura sinistra.

Parado feito abóbora macabra em dia de halloween o homem olhava a todos com certo olhar debochado e cínico. Sem demora tomei um trago que desceu meio torto e fui logo perguntando ao jagunço Cabralzinho quem era a figura.

O CURANDEIRIO
 
 

Cabralzinho era homem queimado de sol e pele craquelada. Usava um chapéu amarelado que encobria sua juba encaracolada e fedida. Da sua boca saia alguns sons fétidos e a falta de alguns dentes lhe conferia um sorriso esquelético. Foi aí que ele me disse: ´-“Esse cabra é o curandeiro que mora em Rio das Pedras... O moço num cunhece?”
JAGUNÇO CABRALZINHO

Balancei a cabeça em tom negativo e pensei comigo: “CURANDEIRO”? ISSO AINDA EXISTE POR ESTAS BANDAS?

De repente a figura bizarra de barba comprida e negra  e rosto sisudo sustentava um capuz com cara de edredon patchwork,  e uma capa amarrada ao pescoço, aproximou-se perguntando por uma tal de Sinhazinha e onde era o rancho dela.
O bar Man desconfiado botou copo e cachaça na bancada sem mesmo o velho pedir e foi logo respondendo inocentemente:
“O rancho de Sinhazinha fica pra mais de algumas léguas depois da Ponte do Chumbinho”(...) Mas pra mor de quê o senhor quer saber?
_Interessa não, filho de um cão! Cala essa latrina antes que eu lhe amaldiçoe e tu vire um sapão daqueles bem verdes e pançudos.


SAPO VERDE E PANÇUDO


Eu saí de fininho e pus-me a correr em direção oposta à que ele tinha perguntado. Depois disso, fiquei  meses sem ter notícias daquele homem que mais parecia personagem de um teatro mambembe.
Fiquei sabendo depois que o homem queria mesmo era conhecer o cajueiro que virou fogueira de São João... Sabe-se lá por quê!?

Ô Coisa esquisita  sô!
Esse causo ainda é contado através dos lampiões de gás do século XXI e de tempos em tempos ainda posso ouvir o som da borboleta voando sobre o cajueiro da Sinhazinha que tecia teias com o novelo de lã enrodilhado na gaiola pendurada na toca do curandeiro.

Dizem que essa historieta virou imagem holográfica e viajou universos.
... Caso estranho esse! Talvez  haja continuação, se eu conseguir desenhar o mapa  astral, escondido sob o novelo de lã que a sinhazinha enterrou ao pé do cajueiro.

By Lu Cavichioli


domingo, 24 de junho de 2012

Meu Silêncio


O Lago era calmo em todo seu esplendor

Meu corpo estático parecia fazer parte
Da relva em que pisava, tal era a força

Incontrolável que  meus pés prendiam

 A quietude cortava o céu e a luz penetrava as copas floridas do bosque.
Na terra, pegadas invisíveis deixavam o rastro tranqüilo dos que dormem.

Naquela tarde minha única tentativa era  conhecer minha origem, eu precisava

já que acordei pra vida e ninguém soube até agora dizer meu nome.

Eu entendia  os pássaros e   seus cantos. Voava nas delicadas asas da libélula, e minha figura cruzava os ares
Mas naquele dia estava eu criando raízes. Minhas entranhas, amalgamadas em riachos e quedas. De lágrimas e cachoeiras cristalinas meu coração gritava em alvoroço.
A natureza fizera de mim parte integrante.

Quem sou eu?.
By Lu Cavichioli


terça-feira, 12 de junho de 2012

Memórias de Fábulas - um mix pós-moderno




Era uma casa muito esquisita, até tinha  teto, mas dentro não tinha nada. Todo mundo podia nela entrar porque a casa tinha parede, chão e janela. A gente podia até dormir na rede e fazer xixi porque banheiro havia ali. Ela era feita com madeira, edredons e bagatelas adocicadas. Uma hora era suntuosa, outra era favela. Reboco na parede e caibros no chão batido e sofrido.



Nessa casa o lobo mau não tinha fôlego suficiente pra derrubar e nem porquinhos pra se alimentar e chapéuzinho não era vermelho, era transparente e suficientemente cautelosa na hora dos docinhos levar.
Certo dia caiu num buraco invadindo maravilhas de gatos coloridos e rainhas suculentas onde o chá era servido exatamene às 5 da tarde em mesa chapeleira , recheada de maluquices.

Correu por entre a relva vestindo capuz vermelho só pra disfarçar , porque o coelho apressado a queria raptar.

Noutro dia caiu da torre um mundaréu de cabelo trançado e aloirado, onde príncipes e ladrões roubavam a cena da mocinha desesperada.



As bruxas continuavam voando e olhando-se nos espelhos e as frutas envenenadas caiam das árvores podres  esquecidas pelos anões garimpeiros.









No silêncio da mais alta torre da terra, dormia enfeitiçada princesa, que sonhava com dois vestidos: um rosado e outro azulado. Frutos do pó de pir lim pimpim em voos graciosos de madrinhas que eram fadas.




Os príncipes reunidos na taverna embebedavam-se de sonhos enquanto suas amadas esperavam a justiça no garboso galope branco da paz.






Enquanto isso, na biblioteca das fantasias, traças contavam histórias para as carochinhas de plantão que tudo iam gravando, inventando e desenhando para quem sabe contar  num futuro nem tão distante assim que Branca de Neve, um dia se apaixonaria pelo caçador e a rainha má ficaria cativa para sempre dentro do espelho dos horrores.





De repente ouve-se um miado. Era nada de mais não... Somente uma gata, a GATA BORRALHEIRA que lustrava pisos e cetros. Dormia e acordava com pássaros e mantinha amizade juvenil com ratinhos costureiros.





Depois veio uma abóbora gigante que cantava SALAGADULA MEXICABULA BIBIDIPOBIDIBU ISSO É MAGIA  ACREDITEM OU NÃO BIBIDIPOBIDIBU... Que transformou andrajos em rendas, sedas e tules. Pena que o cristal ficou nas escadarias, tão solitário, coitadinho. Mas o pézinho outrora órfão ganhou castelos e bobos da corte em companhia real.








Agora virem a página e quem quiser que conte outra!



by Lu Cavichioli






segunda-feira, 4 de junho de 2012

Já posso voar



na clausura

ouço luzes

o tempo

 por vezes cruel –

reprimido e ofegante



O caminho de volta

brilha nos passos

alma fiel

à casa torna

by Lu Cavichioli*