Eu era um menino muito interessado nas coisas da natureza, e
para minha felicidade, morava em uma ilha onde a fauna era rica e privilegiada.
Considerava-me um protetor da ecologia, embora eu tivesse um grave defeito: -
era colecionador de espécimes raros.
Calma, não pensem que colecionava tudo que aparecia. Eu amava as
borboletas, e já tinha uma infinidade delas. De todas as cores, formas e
tamanhos. Eu era tão egoísta que as matava. Como poderia então julgar-me um
herói ecológico?
Minha loucura era tanta, que saía ao amanhecer. Com minha rede,
boné e outros apetrechos de colecionador, pois minha intenção era capturar a borboleta
branca.
Ah, como era magnífica! Na ponta das asas possuía nervuras
alaranjadas, e quando voava, parecia mais um pirilampo. Fui seguindo-a e
conhecendo seus hábitos, descobrindo que só aparecia no entardecer, e para
minha frustração, voava sobre o mar e as copas das árvores, que eram muito
altas.
Uma tarde, munido de todas minhas armas eu a seguia com os olhos,
e por sorte, ela voava sobre uma araucária perto de casa.
Movido pelo ensejo e já com um plano em mente, peguei a escada
que papai usava para consertar a antena de TV, e subi no telhado segurando o binóculo, e na outra mão a rede.
Não sei como consegui equilibrar-me. Enfim estava sobre o telhado.
Feliz ela voava despreocupada. Foi quando perdi o equilíbrio e
caí sentado sobre as telhas, agarrando-me na antena de TV, meu coração a saltar
pela boca.
Mas quando me dei conta a
borboleta branca havia voado para longe, e eu já não podia mais vê-la.
Frustrado, desci a escada cabisbaixo e
com lágrimas nos olhos.
Eu não desistia tão fácil assim. Pensei... Pensei e resolvi me
embrenhar na mata que rodeava o povoado. Assim foi.
No dia seguinte, quando o sol começava a se por, com mochila, saco
de dormir e alguns víveres sem esquecer a rede, lanterna e binóculo, saí para minha jornada mais
importante. Não voltaria sem ela, já estava resolvido.
Saí primeiramente olhando
para o mar, onde ela também costumava voar, e sem êxito, pus-me a caminho da
mata.
Enquanto havia luz, eu olhava para cima, entre as copas das
árvores, mas sempre sem sucesso. Finalmente escureceu. Eu deveria estar ficando
louco... se me perdesse? Todavia era tudo ou nada.
Parei para tomar uma sopa e fazer uma fogueira, e nada de
borboleta. As horas iam se arrastando e tudo ficava sempre mais escuro. Até que
entrei em meu saco de dormir, e fiquei a olhar para as estrelas. De repente surge
minha deusa branca. Voava mais baixo,
pelo simples fato da quietude noturna. Então, bem devagar me levantei, de rede
na mão, lanterna ligada – ZAPT!!!!!
PEGUEI!!!!!!!!
Nossa, eu não acreditava! Delicadamente segurei suas asas e a
iluminei, assim... bem de perto.
Como era linda!! Pude
observar as nervuras alaranjadas, e então abri o vidro que continha um algodão
embebido em álcool, e quando ia colocá-la, parei , olhando como se debatia, e
todo horror que sentia presa entre meus dedos. Fiquei envergonhado e percebi
que a vida era muito mais importante que minha louca mania de colecionador.
Abri os dedos e ela voou, livre!
Sabem como isto se chama?
AMOR!!!!
by Lu Cavichioli