Bosque dos Arvoredos
Depois da ponte, bem longe do lago do arvoredo o Novelo de Lã estudava as almas humanas prestando atenção em seus trejeitos e falas. E foi numa dessas andanças através do bosque de borboletas que o Novelo de Lã encontrou migalhas de pão feito rastro de passarinho. E como era muito curioso o novelinho seguiu a trilha até uma casa abandonada, porém convidativa, tal era seu aspecto.
Casinha de Sorvete Colorê
A casinha era toda feita de tijolinhos de sorvete colorê e das janelas brotavam curiós e patativas que caiam em pencas enrodilhando-se nos troncos feitos de quimeras com erva-santa.
Na porta da frente havia um recado feio de papel crepon pregado com mel que dizia:
"Estou de férias nas areias desérticas e de lá devo seguir para Lustron - um vilarejo perdido no centro da Terra.
assinado - Sinhazinha."
O novelo de Lã que era borboleta voou debulhando-se em lágrimas pensando como iria contar isso para o Cajueiro. Porque comentava-se à boca pequena que o tal Cajueiro andava arredio e um tanto carente. E eram muitas as especulações a respeito de seu silêncio.
Enquanto não virava Novelo de Lã, a Borboleta chorava procurando uma pupa onde pudesse se enconder da vastidão ignóbil do ser humano.
Depois de sobrevoar eucaliptos , o Novelo de Lã pousou sobre o telhado que tinha gosto de nutella e resolveu descer suavemente pela calha espiral feita de biju. Entrou na casa, guardou o crepon no balaio e pôs-se a escrever.
Querido Cajueiro,
"Encontro-me só e totalmente desprovido de humanidades. Tentei ler as mentes no éter, mas nada obtive. Sei que sofres pela ausência de Sinhazinha, mas não temas porque dela tenho notícias. O crepon tudo sabe e tudo vê. Só posso adiantar que ela está bem distante e não há previsões de sua volta.
Tenho notícias também do feiticeiro, porque vi quando voei sobre o arvoredo que ele tinha feito fogueira em noite de lua cheia que desenhou versos e trovas por toda parte.
A lua, tua companheira, irá falar-te ao pé do ouvido sobre o perdão que tu espera e precisa também ofertar. Por isso está sofrendo.
Por favor, tome conta de Lusco Fusco e não deixe que ele atravesse a ponte.
A patativa chegará em breve e esta carta também. Despeço-me triste e solitário, pois ainda sou Novelo de Lã, mas pela manhã serei borboleta novamente e sairei em busca d'orvalho das almas que ainda preciso controlar."
Anima-te porque logo estarei sobrevoando tua copa. Agora vou indo porque tenho que catar algodão doce."
ass:
Novelo de Lã
Fico a pensar se o Cajueiro vai dar conta de ficar só, perdoar e ser perdoado.
Tenho dúvidas se Sinhazinha voltará de Lustron
E deixo no ar a pergunta se O Novelo de Lã será Borboleta para sempre
Fábulas
By Lu C.
Obrigada pela paciência da leitura.