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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A Lágrima da Ninfa


  • “Há lugares onde os mundos se aproximam como as dobras de um manto. Uma dessas pontes é um lugar que os homens chamam de Avalon. Quando as mães da humanidade chegaram a este lugar, o meu povo, que jamais teve corpos, criou formas para nós, à semelhança delas. Elas construíram suas casas sobre estacas na margem do lago e caçavam nos pântanos, e andávamos e brincávamos juntos, pois vivíamos o alvorecer do mundo.”
  •  
  • Marion Zimmer Bradley

 
 
 

Há muitos anos... Longínquos anos... Em um velho condado chamado Bosque de Flandres , viveu um homem simples, com poderes extraordinários e que fazia poções mágicas.  Sua casa era repleta de ervas, extratos florais e pedras preciosas que achava em suas andanças pela floresta.

 
 

A população do condado era composta de colonos, e a aldeia vivia do plantio de grãos e cereais. Era época da colheita, e por estes dias acontecer ia uma festa, denominada a Colheita da Lua, por coincidir com o aparecimento da lua cheia.
Os colonos andavam em polvorosa por causa da comemoração, porém Odeon limitava-se à sua casa e suas poções.

Geralmente, ele saía todas as manhãs, bem cedo, evitando assim que alguém pudesse vê-lo. Andava sempre com um manto que possuía um capuz, e nunca ninguém tinha visto seu rosto. Vivia isolado, triste e amargurado. Seu rosto era deformado, em decorrência de uma explosão, acontecida há algum tempo quando tentava encontrar uma fórmula para obter a fonte da juventude. Seu rosto ficou em chamas, que logo abafou com a ajuda de cobertores, curando-se com unguentos que ele mesmo fazia. Entretanto seu aspecto era medonho, provocando asco. Nesse dia, arrumou seus pertences e viajou para longe, encontrando este vilarejo que adotou como lar.

As pessoas nem se incomodavam mais com ele porque já conheciam seu jeito eremita de ser.
Porém, guardava em seu coração uma infinita tristeza: amava em segredo. Ele a via todo fim de tarde à beira do lago, banhando-se em pétalas, exibindo suas melenas  seu corpo e seu rosto de anjo.

 

 
Odeon escondia-se entre as folhagens para vê-la em todo seu esplendor. E pensava como seria feliz se ela o amasse. Abandonaria tudo se fosse preciso para estar com ela para sempre.

Acalentando seu sonho, retornava e fazia de seu infortúnio um companheiro. Nas mãos, levava um feixe de ervas  com a intenção de converter em extrato perfumado para sua amada.



Finalmente a noite da tal festa chegou. Fogos de artifício rabiscavam o céu, desenhando luzes e cores.
Enquanto os homens animavam o ambiente com suas flautas e pífaros, as mulheres arrumavam as mesas com flores , pratos típicos e vinho. As crianças traziam nas mãos bandejas com frutas secas para acompanhar o jantar.

Odeon espiava  escondido atrás da cortina, sentindo-se a mais hedionda das criaturas. Sem importa-se com a tal festa em meio a tanta música e comilança, o druida saiu em direção ao lago. Em seus pensamentos achava-se a bela Melina, de cabelos ruivos, pele alva e olhos azuis. Na certa, descera do Olimpo esta deusa maviosa, trazendo para a Terra a doçura divinal.



Ao chegar, sentou-se e ficou a observar o firmamento e devanear como era de seu costume. Entretanto, levado pelo cansaço adormeceu na beira das águas, sendo despertado pelos primeiros raios de sol e pela voz lírica e canora de sua amada. Então sem demora levantou-se rapidamente cobrindo o rosto e correndo em direção à floresta, quando ouviu:
 

 

_ Espere! O que fazia caído na beira do algo? Está doente?

Odeon correu tão desnorteado que não percebeu em seu caminho uma pedra tropeçando  e caindo de rosto numa poça de lama.

A moça vinha logo atrás, então  se aproximou ajudando a levantá-lo. Como seu rosto estava enlameado, ela não pode ver a face desfigurada.


_Venha comigo, tenho água fresca em meu jarro e  lavarei seu rosto.

_NÃO! Disse ele em tom lacônico.
Melina assustou-se, mantendo distância.


Odeon escapou mais uma vez.

A moça, furtiva, seguiu seus passos até a entrada do Condado, descobrindo sua casa

Depois deste incidente o druída confinou-se caindo em estado de profunda angustia. Abandonou a idéia de rever Melina em seus banhos matinais, esquecendo também do extrato floral o qual iria presenteá-la.


Pediu a morte!

Em uma noite, num acesso de loucura, jogou todos seus livros no chão, chutando-os e maldizendo a alquimia , gritando:

- ESTOU CONFINADO À SOLIDÃO...
Já meio desacreditado, olhou para a estante e viu um único livro sobre a prateleira, e pegou-o imediatamente. Era um livro pesado, maior que os demais. Tinha a capa da cor do carvalho, a árvore sagrada dos druídas. Para seu espanto, ao ler o título, suas esperanças renovaram-se. Estampado em letras douradas e sobressalentes lia-se: "A SERPENTE DA SABEDORIA".







Tratava-se de um livro místico, que continha poções perigosamente milagrosas. Isto parece um contra senso, mas na verdade era assim mesmo.
Tanto poderia curar como provocar efeitos colaterais irreversíveis. Deveria ser usado com parcimônia e sabedoria.

Odeon lembrou-se de sua mãe, uma sacerdotisa druída de grande confiabilidade, que lhe dissera certa vez para utilizar-se dele somente em caso de vida ou morte.

Entretanto, esta lembrança esvaiu-se como fumaça e ele começou a folhear as páginas como louco, até que encontrou uma poção denominada CYNGHRAIR. Esta se destinava a combater toda a sorte de enfermidades que atingissem a pele e couro cabeludo, porém ele sem raciocinar pôs-se a verificar se possuía os ingredientes.


Ávido para iniciar a alquimia ia lendo os itens e ao mesmo tempo separando-os sobre o balcão, até que leu o último ingrediente que pedia - Lágrimas de Ninfa!

Nesse momento sua expressão que era de contentamento, reverteu-se em desespero, exclamando:

- Por Merlin!! Estou mesmo sem sorte... Se ao menos eu lembrasse onde encontrar o barqueiro fantasma,talvez ele me levasse até a ilha sagrada.



Avalon era um lugar místico, cercado de brumas, onde vivia um povo misterioso e dotado de incríveis poderes extra sensoriais, envolvidos em muita magia. Onde as ninfas corriam livres pelas florestas.
Sua paixão por Melina talvez o levasse à loucura. Ansiava em ser formoso novamente, e assim conquistar-lhe o coração.
Então, sem perda de tempo, deu início à alquimia, mesmo estando ciente que lhe faltava  um ingrediente.

O aroma forte de mirra invadia toda a cabana escapando pelas frestas, inebriando a madrugada.
Odeon usava esta resina aromática com a finalidade de purificar o ambiente e prepará-lo para suas experiências místicas. Então sem demora, o druída concluía a mistura milagrosa, que supostamente faria seu rosto voltar ao normal.
Tão logo ficou pronta a poção, deveria ficar em decantação por um período mínimo de 2 horas. Então Odeon resolveu descansar.


Às primeiras luzes da aurora ele desperta, vigoroso e confiante. Aproximou-se do tacho sentindo o aroma floral. A fórmula rezava que o líquido deveria ser passado nas partes afetadas, então lavou o rosto delicadamente, esperando que secasse ao natural. Assim que seu rosto secou, Odeon levantou-se pegando um caco de espelho, tão grande era o pavor de olhar-se em um inteiriço. Foi quando viu pelas beiradas do caquinho algumas de suas profundas cicatrizes. Soltando um urro medonho terminou de quebrar o que restava do espelhinho. Saiu transtornado floresta adentro se atirando  em meio às folhagens, e então chorou como nunca havia chorado antes.

 Sem suspeitar, o druída estava sendo observado por um vulto logo atrás de uma pedra...


Após tanto desespero, o pobre homem se levantou deixando-se levar pela própria sorte, caminhando em direção a cabana. De repente estancou os passos, olhando para trás... Era estranho, mas tinha sensação de que alguém o seguia.

Enquanto caminhava ia traçando seus planos: iria embora daquele maldito lugar, mesmo sabendo que sua maldição o acompanharia e todos os lugares para ele, seriam malditos.

Entrando, tudo ia sendo jogado dentro de um enorme saco de viagem. Freneticamente caminhou até o tacho, dizendo:
- Farsa! Esta fórmula é uma farsa!
 

Abaixou-se ali, sem forças, proferindo em tom baixo algumas palavras maldizendo a vida. Foi quando sentiu sobre seu ombro um leve toque, Mãos femininas...


 Assustado, apavorado ou mesmo aparvalhado, Odeon levou um choque. De pé, bem à sua frente estava Melina, que aturdida, fitava aquele rosto grotesco tomado pela desgraça.


- Vá embora!! O que faz aqui?
- Acalme-se, por favor. O que houve por aqui? Por que seu rosto ficou assim?


- Oras...Será que lhe dou uma explicação? Por que deveria? Vá embora, eu já disse!!! Você é apenas uma estranha.


- Tem certeza do que diz? Sei quem é você,  me espiava em meus banhos... É o mesmo homem que fugiu de mim com o rosto enlameado.


Nesse momento, Odeon tira um punhal da cintura ameaçando matar-se.
Melina em desespero começa a chorar... Então duas lágrimas de mãos dadas correm pela face caindo dentro da poção. Imediatamente o líquido entra em ebulição e uma névoa perfumada envolve a cabana.

Num sobressalto, Odeon deixa cair o punhal e em apenas um passo alcança o tacho. Com as mãos em conchas, retira parte do líquido místico lavando o rosto. Uma sensação de torpor toma-lhe conta, fazendo-o perder os sentidos.


Tudo estava terminado. O desejo do druída finalmente fora realizado. Seu rosto transformara-se, e novamente voltara a ser um belo homem. Entretanto, quando recobrou os sentidos Melina havia desaparecido.


Diz a lenda que as ninfas jamais poderiam apaixonar-se, essa era a lei. E se isso acontecesse, em brumas se transformariam, retornando ao lugar de origem.


De Odeon nada mais se soube. Contam os aldeões que ele virou constelação, e em noites de lua cheia seu rosto brilha no céu, refletindo seu lume no lago.




O lago da ninfa que abriga a constelação de Odeon.
 

By Lu Cavichioli

 
*TODOS OS DIREITOS RESERVADOS*




 





quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Os gritos de Carminha

Leninha era vizinha de casa de Carminha. Eram aquelas casinhas feito casa de pombo, geminadas.
Paredes coladas e ouvidos abertos, afinal ninguém era surdo ali.

Uma tarde Leninha estava estudando na cozinha enquanto sua mãe terminava algumas costuras. Foi daí que começaram a ouvir gritos alucinantes e pelo jeito que esses gritos vinham eles eram de pavor e dor.
Leninha saiu no quintal e foi aí que ouviu:

_NÃO, NÃO VÓ POR FAVOR NÃO ME BATA!
_Sua cadela eu já mandei você lavar o banheiro, depois ir fazer comprar e fazer almoço. Mas você não me obedece sua vagabunda!

E a vó batia e batia sem dó!
Leninha correu e chamou sua mãe. As duas ficaram ouvindo penalizadas os gritos da pobre Carminha.

Quando foi a noite, Leninha tocou campainha da casa de Carminha. Veio a velha dizendo:
_O que você quer sua enxerida?
Ah, eu... É que eu queria ...
__ DIGA LOGO!!

_Ouvi gritos aí... A Carminha tá bem e eu posso entrar?
_Vai entra logo, a Carminha tá no quarto dela.

Leninha chegou rapidamente ao quarto da moça e a viu sentada no chão encostada na cama e estava em prantos.
CARMINHA?

_Ai Leninha é minha vó, ela me deu uma surra hoje só porque eu não fiz o que ela tinha me pedido. Que dose viu? Eu tenho meus trabalhos de colégio, aulas na auto-escola e eu ainda tenho que ficar fazendo faxina. Ah, eu eu to com muita dor de estomago, acho que é de nervoso... Deve ser gastrite nervosa.

_Mas porque tua avó te maltrata tanto? Eu nunca vi uma avó assim. A minha é tão boa comigo...

E Carminha chorava ainda mais.



A moça em questão era criada pela avó , tal e qual a tia da praia (a tia -avó Zulmira).
Carminha foi abandonada pela mãe depois do divórcio e o pai dela casou-se novamente e não queria saber de criar a filha , então ela ficou com a velha malévola e que também tinha um gato.

INCRIVEL!

Leninha se compadeceu da amiga e disse:
_Vamos lá em casa . Minha mãe fez almôndegas no molho, hummm estão ótimas.
_Imagine uma coisas dessas... Minha avó me mata de pancadas se eu sair daqui. Ela disse que eu to de castigo e nem posso sair do quarto.

Leninha ficou doida de raiva da velha, mas não disse nada para resguardar a amiga. Despediu-se dela dizendo se veriam na manhã seguinte no colégio.


*episódio verídico*
E vem mais por aí - aguardem.

-Nota da Lu: Amigos, alguns desses episódios eu presenciei ou me foram contados por Leninha. Simplesmente porque estas duas, eram minhas vizinhas e também estudavam no mesmo colégio que eu.



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Leninha & Carminha

Ambas com 20anos.


Carminha-ruiva/Leninha loura

Janeiro chuvoso e praia nublada, mas no entanto lá se foram as moçoilas.



Hospedagem na casa da tia de Carminha (bruxa enrustida).Gato cruel na sala...





A velha judiava de leninha, moça frágil.
Carminha passava vergonha e ralhava com a tia.
Tia Zulmira


No mar revolto as moças foram nadar. Corriam pela areia sem destino.
Leninha vomitava e Carminha chorava.
Orelhão na calçada e Leninha chamava pelo pai: "Venha buscar-me"
A bruxa vociferava com Leninha , enquanto Carminha fazia as malas.
O Pai de Leninha chegou domingo cedo. Reclamações da bruxa.
Entraram as duas no carro e o alívio às cobrira de rosas.



Souberam mais tarde que a bruxa teve coma diabético. Morreu na ambulância.
Gato sozinho e feliz.
Lá fora  o sol iluminando boas almas.
Leninha e Carminha  ficaram amigas de fé e irmãs de sangue.





*Este mini conto revela uma experiência verídica.

By Lu C.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Memória Apagada





Tem certos dias em que os blogs deveriam permanecer fechados, ou meus olhos privados de ler tanta profanação e danação. Mas a resposta pra isso tudo é simplesmente não ler. Mas há linhas até que plausíveis, porém contaminadas com purgatórios inescrupulosos, mentirosos e pagãos.

Ei você aí que me lê, você acredita em algo que pode ser maior que você? E que você é um nada diante do maior que existe em algum lugar?

Não tenho nada contra profecias e/ou deuses inexistentes que só pregam a maldade. Porém posso muito bem proferir algo sobre os mesmos. Afinal sou livre para ir e vir.

Ando lendo algumas citações que me causam espanto imediato e então eu saio correndo sem olhar pra trás. Coisa medonha mesmo. Arre!!

Ninguém pode mexer ou re (mexer) na fé de cada um, se é que exista alguma fé ali e acolá.
Olha, nem sei o que significam estas palavras, essas coisas esquisitas que estou escrevendo, mas a verdade é que estou escrevendo e sentindo alguma coisa, então tenho que expressar da maneira que eu sei, ou que eu posso, sei lá...

Talvez alguns parafusos estejam soltando aqui na minha cachola doidivanas, quiçá maquiavélica em algumas ocasiões, mas eu nem ligo. Escrevo o que sinto e pronto...To nem aí...

Estou indo varrer restos de serpentinas que só existem dentro de minhas memórias, talvez eu colha lírios do campo e a paz repouse sobre meu teto quantas vezes for preciso pra que meu coração se aquiete.

Lu C.



domingo, 10 de fevereiro de 2013

Quando eu pensei que só haviam 3 Marias, eis que me aparece...

a quarta...
Na Fábrica de Histórinhas:

MARIA BONITA!




Mariazinha das Bonita, como era chamada pelos cabras da vila me apareceu primeiramente em sonho, depois em visão tipo assombração e por último chegou de mala e cuia colando em minha cachola.
Eu não tinha nenhuma experiência com esse tipo de personalidade, mas gostei da bichinha. E aos poucos fomos criando amizades.

Um dia ela me convidou para tomar um licor de pitomba e eu fiquei assim tão cabrera com essa fruta que fui pesquisar primeiro, pra depois aceitar a bebida. Talvez , mania de caipira, de bicho do mato, sei la o quê. Mas foi o que eu fiz!

Fiquei sabendo que essa fruta aparece desde a região amazônica, passando pela mata atlântica, nordeste do Brasil até o Rio de Janeiro. CARAMBA?! Santa ignorância a minha, mas eu pouco liguei pra isso. Só sei que ela tem dois caroços recobertos por uma camada fina, porém suculenta e tem mágica mistura do adocicado com o cítrico.

Depois dessa maratona em pesquisas, decidi aceitar o convite da Bonita e lá resolvi ficar mais tempo em suas terras.

Curiosamente descobri que essa Maria Bonita era modelo e confeccionava seus próprios vestidos. Fiquei estarrecida com tanto tecido, estampas e modelitos que a moça tinha.
Era vaidosa a moleca!

Gostava de usar colares e brincos de penachos e tinha a preocupação sempre de combinar as peças para que tudo ficasse em harmonia, embora eu achasse um tanto de exageros ali.

A moça em questão tinha cabelos aloirados, e já que tudo era maria, ela usava maria chiquinha naquele dia. Fazia questão de mostrar sua pele  sempre muito bem hidratada e bronzeada, unhas feitas e maquiagem exacerbada.

Uma tarde dessas em que o sol fica eterno sobre a Terra, nos encontramos em um quiosque a beira mar para  uma conversinha amistosa e fraterna.
Pedimos água de côco, depois batidas tropicais com frutas, leite condensado e um pouquinho de vodca e MUITO gelo pra refrescar.

Em meio à nossa conversa, Bonita começou a declamar versos sobre o mar. Fiquei a ouvir sua voz naquele sotaque cantador e lhe perguntei: -"Maria, de quem são esses versos?"
Ela prontamente e demonstrando um pouco de orgulho disse: " São meus"!
OH, exclamei! Tu és poeta?
_" Sou, nasci assim, em vez de chorar, declamei um poema!"

Eu quase caí da banqueta... Seria essa Maria uma lenda?
Folclórica eu já tinha visto que era, justamente pela maneira de se vestir, e os adereços que vinham em seguida.

"Mas que boa notícia, moça Bonita (...) Tu és uma artista porque além de criar vestimentas coloridas e esvoaçantes para alegrar a toda gente, ainda cria versos!?

 Eu estava perplexa diante de tal figura ilustre.

Ela assentia positivamente com a cabeça e ria a toa mostrando a dentadura (que ainda eram dentes permanentes) - pelo menos parecia assim. E olhando atentamente pra mim dizia:

_" Mas não se espante e nem se surpreenda eu escrevo sobre tudo que observo. Tudo que está à minha volta é um pulo pra poesia acontecer. Estou pensando até em escrever um romance regional a lá Guimarães Rosa...
Agora eu caí literalmente da banqueta!!

"_Ahhhhhh" - ela gritou : "Não se aveche moça, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. E gargalhava...")

Aquilo tudo estava demais pra mim. Realmente nunca tinha visto criatura semelhante...

Maria Bonita era muito gentil então convidou-me a pousar em sua casa. Aceitei de primeira!

Quando chegamos eu vi uma casa térrea toda ajardinada e um lindo roseiral alaranjado onde cantavam curiós e pintassilgos.
Logo que adrentei, vi uma sala ampla com muitos quadros quase que preenchendo todo o ambiente.
Quando cheguei mas perto vi que a galeria era composta  por uma espécie de vitral fotográfico onde a natureza figurava com ela - A MARIA BONITA!

Em todos os quadros ela estava presente... e curiosamente perguntei:
"_ Maria, porque você está em todos os quadros?"

Ela sem cerimônia, respondeu:
"_ É que eu me amo"!

by Lu C.