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FÁBRICA DE HISTÓRINHAS



FÁBRICA DE HISTÓRINHAS ESTÁ PROTEGIDA POR DIREITOS AUTORAIS
(plágio é crime)

Histórias da Carochinha sempre me fascinaram. ..
Quando eu era criança meu pai comprou a Coleção inteira de Monteiro Lobato e minha avó comprava um livrinho por mes de histórinhas variadas, e o protagonista era sempre um animalzinho. Eu adorava essa coleção e acreditem ou não, eu tenho (ainda), alguns que guardo com muito carinho.

Atualmente dei pra escrever, ou reinventar histórias, mantendo os personagens, mas com um diferencial: Eles ganharam cara nova e a modernidade abre espaço dentro da fantasia e fica tudo muito divertido e inusitado.

Esta página será minha usina de carochinhas!
Boa leitura

Vejam essas mocinhas, de figurino novo:
Lindas não?

Alice - Sininho - Cinderela - Pocahontas





O Cajueiro a Sinhazinha e o Novelo de Lã - Episódio I -
VOLUME 1



*Quem conhece minha literatura sabe que viajo através do fantástico mundo surreal e este causo (desta contadora de histórias), é prova disso.*


(uma parábola sertaneja/florilégio daquelas de arrepiar assombração)

Todas as tardes a Sinhazinha sentava-se à sombra do Cajueiro e ali ficava cirandando metonímias e desenhando estátuas de papel.
Tinha dias que ficava em sua cadeira de balanço, fincada ali no alpendre olhando lagartas comedoras de samambaias.


A Sinhazinha





QUE VIROU PÁSSARO MUSICAL



De noite o cajueiro se disfarçava em silêncio inquieto enquanto a Sinhazinha se confundia com notas musicais e o novelo de lã virava borboleta.

O Cajueiro pensava que tinha brilho próprio porque todos que passavam pela estrada do rancho paravam ali pra admirá-lo.







O CAJUEIRO


O novelo de lã que era borboleta confundia-se com teias de aranha e a Sinhazinha virava bem-te -vi , pulando em pianos afinandos.






O NOVELO DE LÃ QUE VIROU BORBOLETA




Sinhazinha tinha um filho que era tocador de viola e escrevia cartas de amor para as nuvens. De quando em vez cismava e montava em seu alazão com chicote, cantil e sonhos de poeta golpeando na espora, o seu galope certeiro sem olhar pra trás. Quando isso acontecia, ela ficava na janela de cotovelos apoiados e mãos no queixo acenando saudades, e vendo homens com asas de anjo. Então ela chorava, buscando acolhida no cajueiro que marcava encontros noturnos com a borboleta que era novelo de lã.


FILHO DA SINHAZINHAIlustração: Juraci Dórea.
Certa noite, lá pelas bandas da cidade, bem longe da casa de Sinhazinha, eu tomava meu velho e bom uísque no único bar local quando ouvi alguém gritar: -“Valha-me Deus”! Então numa fração de segundos eu me virei olhando para a entrada dando de cara com uma figura sinistra.
Parado feito abóbora macabra em dia de halloween o homem olhava a todos com certo olhar debochado e cínico. Sem demora tomei um trago que desceu meio torto e fui logo perguntando ao jagunço Cabralzinho quem era a figura.





O Feiticeiro


Cabralzinho era homem queimado de sol e pele craquelada. Usava um chapéu amarelado que encobria sua juba encaracolada e fedida. Da sua boca saia alguns sons fétidos e a falta de alguns dentes lhe conferia um sorriso esquelético. Foi aí que ele me disse: ´-“Esse cabra é o curandeiro que mora em Rio das Pedras... O moço num cunhece?”
JAGUNÇO CABRALZINHO
Balancei a cabeça em tom negativo e pensei comigo:“CURANDEIRO”? ISSO AINDA EXISTE POR ESTAS BANDAS?
De repente a figura bizarra de barba comprida e negra e rosto sisudo sustentava um capuz com cara de edredon patchwork, e uma capa amarrada ao pescoço, aproximou-se perguntando por uma tal de Sinhazinha e onde era o rancho dela.
O bar Man desconfiado botou copo e cachaça na bancada sem mesmo o velho pedir e foi logo respondendo inocentemente:
“O rancho de Sinhazinha fica pra mais de algumas léguas depois da Ponte do Chumbinho”(...) Mas pra mor de quê o senhor quer saber?
_Interessa não, filho de um cão! Cala essa latrina antes que eu lhe amaldiçoe e tu vire um sapão daqueles bem verdes e pançudos.
SAPO VERDE E PANÇUDO
Eu saí de fininho e pus-me a correr em direção oposta à que ele tinha perguntado. Depois disso, fiquei meses sem ter notícias daquele homem que mais parecia personagem de um teatro mambembe.
Fiquei sabendo depois que o homem queria mesmo era conhecer o cajueiro que virou fogueira de São João... Sabe-se lá por quê!?
Ô Coisa esquisita sô!
Esse causo ainda é contado através dos lampiões de gás do século XXI e de tempos em tempos ainda posso ouvir o som da borboleta voando sobre o cajueiro da Sinhazinha que tecia teias com o novelo de lã enrodilhado na gaiola pendurada na toca do curandeiro.
Dizem que essa historieta virou imagem holográfica e viajou universos.
... Caso estranho esse! Talvez haja continuação, se eu conseguir desenhar o mapa astral, escondido sob o novelo de lã que a sinhazinha enterrou ao pé do cajueiro.

 
 
 
 
O Cajueiro, A Sinhazinha e o Novelo de Lã - II
 
 
 
DESENCONTROS - CENA II




O caminho para o Cajueiro



Certa noite, a Borboleta que era Novelo de Lã resolveu virar mariposa e pousou no tronco do cajueiro. E ali ficou tecendo seu tricô de palavras aproveitando para consolar o Cajueiro, cuja raiz gritava de dor, porque certamente iria parir o mapa astral.

Sinhazinha nem de longe desconfiava dessa dupla noturna, pois nesta noite ela resolveu dormir na praia a contemplar fogos de artifícios num reveillon bêbado e maltrapilho.
Ela sabia que o Cajueiro que virou fogueira de São João acostuma-se com fogo-fátuo que saiam cantando das partituras guardadas em peças de relicário sonoros, azuis e compenetrados, na negritude infinita de seu próprio universo.

Esta era uma noite de choro para o Cajueiro porque ele sentiu-se abandonado pela Sinhazinha que pegou caronas em claves de sol - afinal ela era um pássaro.


Novelinho de Lã emaranhado em borboletas

O Novelo de Lã, esperto, sabia olhar dentro das pessoas que passavam garbosas entre as cercanias do arraial. Então ele ficava enrodilhado dentro do balaio que não era de gatos, mas pertcencia somente à Sinhazinha.






Sinhazinha libertando as borboletas




NOITES E AÇÚCARES - CENA III


Aconteceu certa noite que a Sinhazinha resolveu fazer pão de queijo, mas como ela não tinha a receita, decidiu fazer pão de açúcar.Daí ela não queria experimentar o pão sozinha, lembrou-se do Novelo de Lã que guardava em seu balaio que poderia ser de gatos se ela quisesse. Mas qual foi sua surpresa quando ela ali o procurou... Cadê o novelinho ?
Estaria tecendo colcha de retalhos sob o Cajueiro que descansava aos olhares da lua?

A solidão de Sinhazinha


Aos poucos, Sinhazinha recolheu-se à sua solidão e ali ficou a admirar os pães de açúcar pendurados no céu do Cristo Redentor num cantinho da janela. Ficou a olhar estrelas por um tempo fechando a janela em seguida. E foi aí que ouviu um fino miado meio esganiçado - deveras irritante que vinha em sua direção. Era lusco-fusco, seu bichano de estimação que trazia na boca o Novelo de Lã todo emaranhado e envolto em borboletas noturnas estranhamente coloridas.
Então Sinhazinha acenou para o Cajueiro, desfez os nós libertando as borboletas e resolveu dormir um sono milenar (semelhante ao de uma certa princesa).
 
 
 
 
 
 
 
Lusco - Fusco
 
 

 
 



A saga continua em outra oportunidade - deixemos o Cajueiro dormir e virar uma Dama






O Cajueiro, A Sinhazinha e o Novelo de Lã - III
... Novelo de Lã em Missiva


Bosque dos Arvoredos


Depois da ponte, bem longe do lago do arvoredo o Novelo de Lã estudava as almas humanas prestando atenção em seus trejeitos e falas. E foi numa dessas andanças através do bosque de borboletas que o Novelo de Lã encontrou migalhas de pão feito rastro de passarinho. E como era muito curioso o novelinho seguiu a trilha até uma casa abandonada, porém convidativa, tal era seu aspecto.








Casinha de Sorvete Colorê


A casinha era toda feita de tijolinhos de sorvete colorê e das janelas brotavam curiós e patativas que caiam em pencas enrodilhando-se nos troncos feitos de quimeras com erva-santa.

Na porta da frente havia um recado feio de papel crepon pregado com mel que dizia:

"Estou de férias nas areias desérticas e de lá devo seguir para Lustron - um vilarejo perdido no centro da Terra.
assinado - Sinhazinha."

O novelo de Lã que era borboleta voou debulhando-se em lágrimas pensando como iria contar isso para o Cajueiro. Porque comentava-se à boca pequena que o tal Cajueiro andava arredio e um tanto carente. E eram muitas as especulações a respeito de seu silêncio.

Enquanto não virava Novelo de Lã, a Borboleta chorava procurando uma pupa onde pudesse se enconder da vastidão ignóbil do ser humano.

Depois de sobrevoar eucaliptos , o Novelo de Lã pousou sobre o telhado que tinha gosto de nutella e resolveu descer suavemente pela calha espiral feita de biju. Entrou na casa, guardou o crepon no balaio e pôs-se a escrever.

Querido Cajueiro,

"Encontro-me só e totalmente desprovido de humanidades. Tentei ler as mentes no éter, mas nada obtive. Sei que sofres pela ausência de Sinhazinha, mas não temas porque dela tenho notícias. O crepon tudo sabe e tudo vê. Só posso adiantar que ela está bem distante e não há previsões de sua volta.

Tenho notícias também do feiticeiro, porque vi quando voei sobre o arvoredo que ele tinha feito fogueira em noite de lua cheia que desenhou versos e trovas por toda parte.

A lua, tua companheira, irá falar-te ao pé do ouvido sobre o perdão que tu espera e precisa também ofertar. Por isso está sofrendo.
Por favor, tome conta de Lusco Fusco e não deixe que ele atravesse a ponte.

A patativa chegará em breve e esta carta também. Despeço-me triste e solitário, pois ainda sou Novelo de Lã, mas pela manhã serei borboleta novamente e sairei em busca d'orvalho das almas que ainda preciso controlar."




Anima-te porque logo estarei sobrevoando tua copa. Agora vou indo porque tenho que catar algodão doce."
ass:
Novelo de Lã



Lusco-Fusco com saudade do Novelo de Lã



Fico a pensar se o Cajueiro vai dar conta de ficar só, perdoar e ser perdoado.

Tenho dúvidas se Sinhazinha voltará de Lustron

E deixo no ar a pergunta se O Novelo de Lã será Borboleta para sempre





O Cajueiro, a Sinhazinha e o Novelo de Lã
The End





No último episódio eu deixei algumas incertezas pairando leve como quem nada quer... Devo repetir para que todos lembrem e façam seu julgamento final.



*Será que o Cajueiro vai dar conta de ficar só, perdoar e ser perdoado?



*Tenho dúvidas se Sinhazinha voltará de Lustron

* Deixo no ar a pergunta se o Novelo de Lã será para sempre borboleta









Descobri sobre o Cajueiro que ele deu conta de ficar só, mesmo porque sozinho se basta (não é difícil de perceber). Agora... Perdoar sei não... Sua copa é frondosa demais pra isso. Penso que ele entenda ser o melhor e o maior pé de caju da face da Terra. Contudo, foi perdoado, mas o “perdoador “bateu asas e voou pra bem longe e dizem que desencanou de vez.

Sinhazinha deu o ar da graça, alugou um Zeppelin e voltou de Lustron numa viagem sem escalas diretamente para seu rancho onde mora o Cajueiro. Lá chegando, varreu as folhas mortas em volta do tronco saudoso e lavou toda a varanda colocando balanços e mimando lagartas comedoras de samambaias.

Quanto ao Novelo de Lã, que um dia foi borboleta, fechou-se em crisálidas a espera do ano vindouro, onde será somente um tecer de missivas.




Contaram-me que Cabralzinho, o jagunço, fez cirurgias homofóbicas e anda a espalhar rosas pelos caminhos. Agora sim ele poderá ser realmente feliz, embora sua capacidade craniana seja provida apenas de poucos neurônios parafusados com cola quente.

O Feiticeiro virou fogo fátuo para sempre e foi morar na Constelação da Estrela Vega.


Saudações e agradecimentos para quem acompanhou a saga do Cajueiro, da Sinhazinha e do Novelo de Lã - um trio que adora um baile de máscaras. Mas atenção: Cada um tem sua particularidade, que deixou marcas no “perdoador”imaginário, dono e senhor do cenário.

O Cajueiro deixa decepções

A Sinhazinha causa dúvidas

O Novelo de Lã coleciona arrogâncias

By Lu Cavichioli

*Ano vindouro, quem sabe... Novas aventuras!








Aventuras de Dona Carochinha no Século XXI


A vida secreta e pessoal da Rainha Má

Escutei certa noite em que jogava cartas com o Príncipe Philip, que a Rainha Má era drag queen e fazia seus shows em casas noturnas nas cercanias do Castelo.









Conta-se à boca pequena que o pai de Branca de Neve em uma dessas noites assoladas pela viuvez saiu em busca do Vale Encantado para ver se o sol iluminaria cachoeiras ,regatos e fontes espantando o cavernoso inverno interior que deixara suspiros glaciais em seu peito.

O infeliz ia cabisbaixo sacolejando em sua carruagem quando uma das rodas soltou provocando voos desajustados. O cocheiro saltou boquiaberto diretamente para um galho seco que despencou logo em seguida lançando o coitado em uma poça de lama. O Rei caiu na beira do caminho rolando alguns metros à frente da carruagem ferindo-se na testa , desmaiando. Quando recobrou os sentidos veio logo aos seus ouvidos um som abafado de uma música que o lobo-mau costumava dançar antes de levar chapéuzinho pra casa da vovó... Se não me engano , a música era do grupo Village People- YACM -alguém conhece?

Mas que diabos - exclamou o Rei segurando a cabeça com uma das mãos numa expressão de dor e terror?! Sentado na cama ,metido num pijamas de bolinhas vermelhas, o Rei ficou perplexo quando viu ao pé da cama uma mulher exuberante e de olhar sensual exibindo um vestido cor de maravilha colado ao corpo provocante.

Deslizava sobre o colo protuberante um feixe de diamantes em formato de cobra e os cachos tingidos de pink deslizavam plenos, ombros abaixo . O olhar desta mulher fatal foi a derrota do Reino, pois a figura angelical escondia sinistro futuro para os súditos e seria mortal para a formosa e inocente Branca de Neve.

O rei gesticulou feito marionetes num ímpeto de fuga, mas foi logo dominado pela delicadeza da (mocréia) Dona Lady Rochelle que o beijou ternamente jurando amor eterno.


O casamento aconteceu com grande pompa e os reinos vizinhos trouxeram presentes e majestades enfileirados numa caravana surreal... Imaginem que até aLady Gaga estava presente.

Passado algum tempo o rei caiu enfermo com dengue e morreu rapidamente.
Lady Rochelle, foi coroada Rainha e Branca de Neve com seus 10 anos lutava judô e fazia aula de tiro ao alvo quando foi surpreendida e arrastada à força para a torre mais alta do castelo e lá ficou até Spilberg enviar o E.T. para salvá-la. Mas isso demorou alguns anos...

O reino e seus súditos odiavam sua majestade que já era rainha antes, e que poderia virar um Dragão cuspidor de sangue se assim desejasse.


Uma noite, o dragão que era rainha andava de patins sobre o rio congelado quando cismou de tirar o espelho da bolsa para retocar a maquiagem. Neste momento seu celular tocou e do outro lado da linha uma voz meio rouca lhe dizia: FAÇA A PERGUNTA antes que seja tarde demais! Sem demora Lady Dragão, após retocar o batom olhou para o espelho dizendo: Espelho fedorento e insignificante, existe algum dragão mais bonito do que eu?
Neste momento o espelho cantou Macho Man e ela num sorriso frenético fez espacate indo dormir em seguida pensando em sonhar com o caçador de androides para um “servicinho” sujo logo mais.

Porém o que ela não imaginava é que a Princesa tinha feito um curso (às escondidas )com a tropa de elite do Rei Arthur.


alguém tem noção do que vai acontecer com Branca de Neve?



Será que ela vai virar Patricinha?

 

 


Memórias de Fábulas - Um Mix Pós-Moderno






Era uma casa muito esquisita, até tinha teto, mas dentro não tinha nada. Todo mundo podia nela entrar porque a casa tinha parede, chão e janela. A gente podia até dormir na rede e fazer xixi porque banheiro havia ali. Ela era feita com madeira, edredons e bagatelas adocicadas. Uma hora era suntuosa, outra era favela. Reboco na parede e caibros no chão batido e sofrido.








Nessa casa o lobo mau não tinha fôlego suficiente pra derrubar e nem porquinhos pra se alimentar e chapéuzinho não era vermelho, era transparente e suficientemente cautelosa na hora dos docinhos levar.
Certo dia caiu num buraco invadindo maravilhas de gatos coloridos e rainhas suculentas onde o chá era servido exatamene às 5 da tarde em mesa chapeleira , recheada de maluquices

Correu por entre a relva vestindo capuz vermelho só pra disfarçar , porque o coelho apressado a queria raptar.
Noutro dia caiu da torre um mundaréu de cabelo trançado e aloirado, onde príncipes e ladrões roubavam a cena da mocinha desesperada.

 



As bruxas continuavam voando e olhando-se nos espelhos e as frutas envenenadas caiam das árvores podres esquecidas pelos anões garimpeiros.



No silêncio da mais alta torre da terra, dormia enfeitiçada princesa, que sonhava com dois vestidos: um rosado e outro azulado. Frutos do pó de pir lim pimpim em voos graciosos de madrinhas que eram fadas.






Os príncipes reunidos na taverna embebedavam-se de sonhos enquanto suas amadas esperavam a justiça no garboso galope branco da paz.




Enquanto isso, na biblioteca das fantasias, traças contavam histórias para as carochinhas de plantão que tudo iam gravando, inventando e desenhando para quem sabe contar num futuro nem tão distante assim que Branca de Neve, um dia se apaixonaria pelo caçador e a rainha má ficaria cativa para sempre dentro do espelho dos horrores.



De repente ouve-se um miado. Era nada de mais não... Somente uma gata, a GATA BORRALHEIRA que lustrava pisos e cetros. Dormia e acordava com pássaros e mantinha amizade juvenil com ratinhos costureiros.








Depois veio uma abóbora gigante que cantava SALAGADULA MEXICABULA BIBIDIPOBIDIBU ISSO É MAGIA ACREDITEM OU NÃO BIBIDIPOBIDIBU... Que transformou andrajos em rendas, sedas e tules. Pena que o cristal ficou nas escadarias, tão solitário, coitadinho. Mas o pézinho outrora órfão ganhou castelos e bobos da corte em companhia real.










Agora virem a página e quem quiser que conte outra!











Romeu e Julieta na Terra do Nunca

O Poço dos Desejos



Cena I


Verona estava tão calma que Julieta provida de seus 15 anos resolveu passear na praça principal e tomar um sorvete. Ela trajava um vestido cor de vinho sustentado por um corpete ajustado por ilhóses de prata que abrigava uma blusinha branca de puro algodão com mangas bufantes.
Seu cabelo estava solto e livre dos nós daquela trança que ela odiava e sua boneca Neide, andava de mãos dadas com ela.


Romeu & Julieta












Do outro lado da praça estava a igreja da matriz e em suas escadarias, sentado em posição de meditação, havia um moçoilo vestido com seus 17 anos e metido numa fusô acompanhada de um colete acinzentado e camisa de seda perolada
. Sapatilhas e boinas ostentavam a cor petróleo compondo seu figurino, assim meio parecido com um bufão, e a seu lado garboso e imponente, estava Fuzarca, o cão.

A fonte de Santa Lucia jorrava peixinhos coloridos através de um bocal de serpente, revestida de pedra, feita pelo artista plástico Maurício de Sousa. As águas eram límpidas e podia-se ver o fundo da fonte onde moravam pequenas sereias e seus tritões apaixonados.

A vida era assim em Verona, calma, morna e atípicamente tediosa. Ao longe ouvia-se a banda imperial ensaiando o Hino à Bandeira Nacional que seria hasteada com pompas no próximo fim de semana.

Neide e Julieta já cansadas e com sede foram à bica mais próxima refrescarem-se quando Fuzarca começou a mordiscar o vestido de Neide. Romeu ralhou com o animal que logo se arrependeu sentando-se ao lado do dono.

Julieta levantou timidamente seus olhos amendoados desenhando um riso maroto no canto dos lábios rosados. Romeu fez reverência , pedindo desculpas e dizendo:

- Cara Julieta, minha andorinha celeste, meus olhos acendem o brilho do coração ao ver-te assim tão perto esta manhã. Desculpe o atrevimento de meu cão, mas ele é perdidamente apaixonado por Neide.

_Oras caro Romeu não se amofine com bobagens, eu estava mesmo à tua espera.

_ESTAVA? - bradou Romeu.

_Sim, oh meu sonho de consumo! Lembras que ficaste de levar-me ao Poço dos Desejos Secretos?

_Oh, sim, minha idolatrada, salve salve! Claro que lembro... Mas, mas, onde está tua boa e fiel Bá?

_Neste momento deve estar fazendo as unhas e lixando aquele calcanhar craquento... E quem sabe, fazendo uma máscara calmante em sua rosácea.

_ Então aproveitemos, oh raio de sol que fez-me saltar de contentamento ao ouvir o arauto da manhá em teus lábios.

_Mas onde ficarão Neide e Fuzarca?

Irão conosco, amada minha!

E depois desse diálogo metade Shakespeariano metade Cavichioliano, foram-se os dois jovens e seus mascotes ao Morro dos Ventos Uivantes em busca do Poço dos Desejos.

Lá chegando foram surpreendidos pela guardiã da fonte - uma lagartixa pre-histórica com olhos de diamantes, que só poderiam ser vistos à noite porque de dia eles confundiam-se com o sol e ninguém sabia se ela estaria dormindo ou acordada.

O Poço dos Desejos fazia morada dentro de uma Fonte e era rodeado com gelo seco instalando-se uma espécie de fog londrino em volta do tal Poço.

Era mister aproximarem-se com muita cautela, mas Neide era uma boneca sem modos de mocinha educada e logo soltou a mão de Julieta correndo frenética em direção ao beiral esfumaçado.

Julieta gritou! Romeu assustou , Fuzarca latiu... E Neide desapareceu...

O sol estava a pino e não se podiam ver os olhos da lagartixa, sendo assim, os adolescentes desavisados correram até o beiral a fim de salvar Neide.

Pobres coitados! Foram engolidos com Fuzarca e tudo... Iam então sacolejando dentro da pança dquele bicho bizarro até que foram cuspidos em um bosque com macieiras brancas, canteiros de amores perfeitos e miados de gatos coloridos. Ao longe tambores batucavam a dança da chuva , enquanto o céu anunciava segredos.

Meio atordoados, nossos quatro amiguinhos entreolharam-se resolvendo colher maçãs brancas, mas foram atropeladas por uma corja de vândalos maltrapilhos com porrete nas mãos .

_ Quem são vocês, bizarras criaturas? Indagou o mais velho dos maltrapilhos.
Não houve resposta, somente o latido atrevido de Fuzarca.

Sem demora, um dos pequenos vândalos exclamou:
_Façamos purê, mestre?

_Cale-se Pormenor, você por hoje já saturou minha paciência! Vamos leva-los à presença de Pan, ele saberá o que fazer.


E assim, amarrados e amordaçados, Romeu ia manquitolando seguido por Julieta descabelada, e Neide que perdera metade de sua cabeleira de lã verde, agarrada ao pescoço de Fuzarca rosnando baixinho.
Sabe-se lá para onde...


Cena II - Romeu e Julieta na Terra do Nunca

... O Bosque dos Duendes






Como vimos no episódio anterior, Romeu e Julieta seriam levados à presença de Pan. Pelo caminho iam aos poucos desatando os nós da cordas encardidas que tinham sido amarrados. Pormenor e Pulga seguiam atrás e na frente ia imponente - Detalhista, o garoto mais velho .

Seguiam pelo bosque e o aroma das maçãs brancas invadia o ar e Neide parou dizendo:
_ Eu queria comer essa maçã, posso?

Detalhista virou-se soltando fogo pelas ventas dizendo que se algum engraçadinho comesse a maçã seria fatalmente transportado para Avalon.

Romeu gargalhou e Pormenor o interpelou:

_Do que ri, bufão?
Olha o respeito - gritou Romeu que explicou o som dos riso: " Vocês são uns pândegos sabiam? Avalon pertence a outra história e já basta duas alegorias nessa trajetória que pelo visto, vai ser um pandemônio".

_VAMOS, ESCRAVOS, ANDEM! Bradou Detalhista...

A noite fazia suas vezes na Terra do Nunca e logo à frente encontraram um barco a vela numa poça de areia movediça.





 

Pormenor gritou: - ALTO LÁ, vamos fazer um parada Detalhista? Precisamos comer alguma coisa, e passar por esse pedacinho de terra rodeado dessa areia que só faz dançar poderíamos ser engolidos pela música, o que acha?

Está bem, resmungou o Big Boss. E foi nessa parada que Neide e Fuzarca correram para detrás de uma pedra e lá ficaram agachados e encantandos porque ali encontraram Lanterninha a Fada Vagalume. Neide tentava alcançá-la com aquelas mãos de pano enquanto Fuzarca abanava o rabo, decerto feliz em ver aquele ponto de luz esvoaçante.

Do outro lado da pedra Julieta começou a chorar porque havia perdido Neide de vista e Romeu a abraçou, tirando do bolso um bem-casado que tinha guardado para dar-lhe de presente na fonte dos desejos.

O céu fazia companhia a todos e os garotos maltrapilhos assavam um gnomo verde feito sapo verdejante que temperaram com folhas de salsaparrilha.

Romeu com cara de nojo exclamou:

_Esse é o nosso jantar?

Detalhista fazendo caretas retrucou:
_Não, garotinho juvenil, esse é o NOSSO jantar!!

E ali ficaram até adormecerem. E no meio da madrugada ouviram passos que esmagavam folhas secas. Pormenor que estava de guarda foi espiar e caiu numa armadilha.


Quem seria àquelas horas? O Gato de Botas? Só faltava essa...
E o que acontecerá com essa turminha?
Será que Neide fugiu com Fuzarca?

Aguardemos...





Romeu e Julieta da Terra do Nunca

Pan, o Salvador da Pátria - Epílogo



PAN


Quando amanheceu Detalhista foi o primeiro a acordar e logo chamou Pormenor que evidentemente não respondeu. Então ele cutucou Pulga e Mala sem alça os gêmeos preguiçosos e molengas. Aturdidos levantaram-se rapidamente:
Mala Sem Alça
Sim Chefinho, pois não Chefinho...
 _CALEM-SE imbecis! Onde está Pormenor?
_Não sabemos chefinho, estávamos dormindo, retrucou Mala sem Alça.
Detalhista e Pulga
_ Bando de incompetentes é o que vocês são, Pan vai ficar uma fera... Vamos levantar acampamento e seguir pelas beiradas dessa areia movediça e traiçoeira. Vamos, acordem a patricinha e o mauricinho!
Sonolentos os dois jovens levantaram-se e Romeu exclamou: Oh, Sr Detalhista não acha que deve fazer jus ao seu nome e procurar Neide e Fuzarca antes de irmos embora? Não vamos sair daqui sem eles.
Mas que petulância desse engomadinho?! Vocês são nossos prisioneiros e vão obedecer.
Julieta chorou!
 E lá foram eles, sem Fuzarca, sem Neide e sem Pormenor. Chegaram ao acampamento de Pan famintos e mais esfarrapados do que antes. Detalhista gritou por Pan e não obteve resposta. Irritado correu em volta da tenda e nada achou, a não ser um gancho enferrujado e uma camiseta do Bayer de Munique.
Logo seus olhos acenderam chamas de gargalhadas e ele começou a pular gritando: Galhofa e Braço de Ferro foram presos tenho certeza Pan nunca falha!
Mão de Ferro antes da guerra com Pan

Galhofa em sua esteira particular antes de zarpar com os piratas
 Deram de comer e beber aos prisioneiros que já eram íntimos até que ouviram passos. De porrete na mão, Mala sem alça foi verificar e para sua surpresa, viu Pan, chegando e carregando uma rede com dois peixes. Um era pançudo e o outro magricela e pormenor o ajudava. Logo atrás caminhavam plenos - Neide e Fuzarca.
SAUDAÇÕES  VISITANTES - bradou Pan. Tenho boas notícias... Neide andou me contando algumas coisinhas sobres vocês.
Julieta entrementes... (“Eita que essa Neide é mesmo a maior fofoqueira da paróquia”)
Então, Pan chamou Romeu e Julieta dizendo:
_Muito bem, vocês estão com sorte já que papai e mamãe, Montequinos e Capuletanos respectivamente desajustados e indolentes proíbem vossos encontros, declaro que de hoje em diante Romeu e Julieta serão meus protegidos para SEMPRE. Sem mortes nem velas e muito menos equívocos como a historinha de uma carta que Romeu nunca recebeu (decerto) em outra encarnação.
Venham amiguinhos, sentem-se e vamos brindar porque hoje eu libertei e liberei a Terra do Nunca. Imaginem que lutei e venci a guerra contra Mão de Ferro, o mais terrível Pirata do Caribe e seu imediato Galhofa. Há estas horas o Jacaré Zé deve estar revirando-se em festa na lagoa das sereias e de barriga cheia.

Jacaré Zé
Venham e olhem para o horizonte. Está é a Terra do Nunca onde sempre é hoje e amanhã nunca terminará.

TERRA DO NUNCA


By Lu Cavichioli

*todos os direitos reservados




O Cajueiro, a Sinhazinha e o Novelo de Lã
Volume 2


 As três Marias!
Na pauta de hoje:


MARIA IDEAL








As Marias eram apenas três menininhas comportadas que estrelavam telas de cinema em sépia, totalmente descoloridas, porém em cada interior conservavam as cores que adoçaram a boca do sabiá carcará, aquele que pega mas não mata e nem come, apenas adula.

As Mariazinhas viviam sua vidinha costumeira e um tanto tediosa, e no entanto eram cantadoras de cantigas de roda e brincavam de amarelinha quando se encontravam num arrastapé local em algum lugar do planeta.

Um dia me contaram sobre Maria Ideal, mocinha comportada, educada e letrada. Nasceu pronta a moçoila, com perninhas bronzeadas e sorriso Colgate.

Em suas lembranças dançavam alguns retratos antigos como um balaio onde ela repousava (ainda), seu espírito de criança em tardes alaranjadas colhendo fruta no pé.

Soube que ela viajou léguas, mudou de endereço e virou deusa de rara beleza, estraçalhando corações.
Contudo, ela gostava mesmo era de tecer teias férteis e decorativas que transformava em mandalas mágicas e seus poderes eram parecidos com os da Família Maia, aqueles findadores de mundos.

Maria Ideal conjugava verbos e adagas amalgamando álbuns fotográficos, mesmo porque sua figura lembrava Danae a deusa da fonte que dava de beber aos pobres de espírito.

Contam também que possuía , Maria Ideal, uma voz maviosa, macia e totalmente clean e sem pigarrear uma só vez, declamava sons alusivos de poetas arcaicos, prosaicos e maduros na estatura do ser.
Ela morava num castelo fincado no horizonte, e de lá espiava o mundo.

Aguardem as outras Marias, ou em edição extraordinária mais um tiquinho da vida de Maria Ideal.
Vem muito mais por aí!






... Maria Pão de Açúcar!




Esta Maria de doce não tem nada, só o nome mesmo. Devo confessar que quando a conheci, sentamos juntas em um desses butecos espalhados pela orla marítima e ali ficamos a desfiar nossa meada procurando pelo fio da mesma.

Ela pediu um chopp claro.
Eu, uma água de côco.

Tecemos então colcha de retalhos, porém faltou-me alinhavo suficiente para que a peça ficasse de bom tamanho e apresentável. Foi aí que olhei de lado e vi que tinha perdido minha caixa de costura e precisei desculpar-me por tamanha falta de senso.

Ela olhou-me de soslaio.
Eu a encarei!

Depois desse enlace entre/olhos, me vesti de colombina e fui ao Morro de São Cristóvão compor um samba com Dom Curió.

A moça desmanchou-se em açúcares.
Eu, sambei a noite inteira.

Noutro dia eu soube que ela tinha usado a roca de fiar, justamente pra ver se conseguia a colcha terminar. Contudo, a pobre colcha tinha ficado órfã de açúcar e côco...
Depois dessa decepção, Maria Pão de Açúcar sumiu de circulação, mostrando sua doçura indômita de quando em vez e somente a quem ela escolhesse... Esperta, a moça!
Eu faria o mesmo se alguém me deixasse plantada, criando raízes expostas à pegadas desumanas.

Maria aboletou-se em casa de campo.
Eu, soltei as feras.

Passado alguns anos Maria Açucarada semeou olhares perpendiculares em seus campos de estrelas, colhendo sorrisos e abraços que ela enrolava dentro de um envelope bordado por Iemanjá. Depois fazia dele um aviãozinho de papel e pedia permissão à torre para levantar voo, indo talvez coser universos internos.

Maria Pão de Açúcar, virou pó de estrelas
Eu, comprei um pilão e fui amassar poesia

 


 

... Maria Tapioca







Em uma noite dessas em que a lua fulgura fagulhas imantadas eu pensei ter sonhado com uma menina ranheta, invocada e quem sabe... Desconfiada. Mas na verdade não era sonho não, gente... Era ela mesmo em carne e osso batendo em minha porta de madrugada, dependurada num Jeep amarelo ocre.

Corri esbaforida para ver de quem se tratava. Abri a porteira e lá estava, plantada em meu alpendre, uma figura atarracada, de pernas curtas e cabelos trançados. Falava baixo com voz de anjo, mas no rosto trazia fogo nas bochechas. Vociferava palavras confusas e escrevia sem parar em uma caderneta metalizada.

Eu a cumprimemtei e ela assentiu com a cabeça esboçando sorriso amarelo. Daí já meio irritada indaguei:

_Quem é você e o que faz na porta de minha casa a estas horas da madrugada?
Ela retrucou:

_ora ora... eu sou um jamelão num tá vendo?

Mal educada a moçoila?

Retorcendo a boca e revirando os olhos, fiz cara de bugre e perguntei se ela queria apear e passar a noite ali , explicando o motivo de sua aparição.

Ela saiu do jeep e foi entrando como se a casa fosse dela e ela conhecesse cada canto. UM ESPANTO!

Entrou e foi logo em direção a um quadro que eu tinha na parede. A paisagem exibia uma pintura morta entre frutas e jarros de barro. Ela olhou, tocou , dizendo:

Raios me partam, o que leva uma pessoa a ter um quadro desses na parede? Peras e maçãs sobrepostas ao lado de jarros velhos e uma toalha manchada? Porque não colocaram aí um vaso de samambaias com lagartas mascando chicletinho verde e sambando desengonçada em suas mil perninhas? Bahhhh - porcaria!

Eu já irritada, dei um prestenção na pirralha:

-Ei, você tá muito abusada pra quem apeou de um Jeep tipo lataria velha e decaída, no meio da madrugada, interrompendo meu sono perfeito de amores nessa inquietação de mal-humor, sua... Sua... coisinha triste!?

Ela baixou os olhos conservando a carranca dizendo:
Se preferir posso sair e dormir no Jeep, nem to aí pra você! Só não mexa em meus escritos meio egípcios colados na caderneta de epopéias, "tendeu"!!?

Eu já estourando em chuvas e trovoadas, empurrei-a porta afora, jogando-lhe um cobertor e uma mamadeira contendo leite com Nescau. Não esquecendo, da caderneta das importâncias e... Pensando com meus botões: "que tanto ela quer proteger dentro desse emaranhado de papéis contorcidos e quem sabe composto de letras crônicas"?

Voltei para minha cama deixando o abajur aceso, refletindo visões em 3D.

by Lu C.


E quando eu pensava que só haviam três marias me aparece...

A quarta

MARIA BONITA!




Mariazinha das Bonita, como era chamada pelos cabras da vila me apareceu primeiramente em sonho, depois em visão tipo assombração e por último chegou de mala e cuia colando em minha cachola.
Eu não tinha nenhuma experiência com esse tipo de personalidade, mas gostei da bichinha. E aos poucos fomos criando amizades.

Um dia ela me convidou para tomar um licor de pitomba e eu fiquei assim tão cabrera com essa fruta que fui pesquisar primeiro, pra depois aceitar a bebida. Talvez , mania de caipira, de bicho do mato, sei la o quê. Mas foi o que eu fiz!

Fiquei sabendo que essa fruta aparece desde a região amazônica, passando pela mata atlântica, nordeste do Brasil até o Rio de Janeiro. CARAMBA?! Santa ignorância a minha, mas eu pouco liguei pra isso. Só sei que ela tem dois caroços recobertos por uma camada fina, porém suculenta e tem mágica mistura do adocicado com o cítrico.

Depois dessa maratona em pesquisas, decidi aceitar o convite da Bonita e lá resolvi ficar mais tempo em suas terras.

Curiosamente descobri que essa Maria Bonita era modelo e confeccionava seus próprios vestidos. Fiquei estarrecida com tanto tecido, estampas e modelitos que a moça tinha.
Era vaidosa a moleca!

Gostava de usar colares e brincos de penachos e tinha a preocupação sempre de combinar as peças para que tudo ficasse em harmonia, embora eu achasse um tanto de exageros ali.

A moça em questão tinha cabelos aloirados, e já que tudo era maria, ela usava maria chiquinha naquele dia. Fazia questão de mostrar sua pele sempre muito bem hidratada e bronzeada, unhas feitas e maquiagem exacerbada.

Uma tarde dessas em que o sol fica eterno sobre a Terra, nos encontramos em um quiosque a beira mar para uma conversinha amistosa e fraterna.
Pedimos água de côco, depois batidas tropicais com frutas, leite condensado e um pouquinho de vodca e MUITO gelo pra refrescar.

Em meio à nossa conversa, Bonita começou a declamar versos sobre o mar. Fiquei a ouvir sua voz naquele sotaque cantador e lhe perguntei: -"Maria, de quem são esses versos?"
Ela prontamente e demonstrando um pouco de orgulho disse: " São meus"!
OH, exclamei! Tu és poeta?
_" Sou, nasci assim, em vez de chorar, declamei um poema!"

Eu quase caí da banqueta... Seria essa Maria uma lenda?
Folclórica eu já tinha visto que era, justamente pela maneira de se vestir, e os adereços que vinham em seguida.

"Mas que boa notícia, moça Bonita (...) Tu és uma artista porque além de criar vestimentas coloridas e esvoaçantes para alegrar a toda gente, ainda cria versos!?

Eu estava perplexa diante de tal figura ilustre.

Ela assentia positivamente com a cabeça e ria a toa mostrando a dentadura (que ainda eram dentes permanentes) - pelo menos parecia assim. E olhando atentamente pra mim dizia:

_" Mas não se espante e nem se surpreenda eu escrevo sobre tudo que observo. Tudo que está à minha volta é um pulo pra poesia acontecer. Estou pensando até em escrever um romance regional a lá Guimarães Rosa...
Agora eu caí literalmente da banqueta!!

"_Ahhhhhh" - ela gritou : "Não se aveche moça, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. E gargalhava...")

Aquilo tudo estava demais pra mim. Realmente nunca tinha visto criatura semelhante...

Maria Bonita era muito gentil então convidou-me a pousar em sua casa. Aceitei de primeira!

Quando chegamos eu vi uma casa térrea toda ajardinada e um lindo roseiral alaranjado onde cantavam curiós e pintassilgos.
Logo que adrentei, vi uma sala ampla com muitos quadros quase que preenchendo todo o ambiente.
Quando cheguei mas perto vi que a galeria era composta por uma espécie de vitral fotográfico onde a natureza figurava com ela - A MARIA BONITA!

Em todos os quadros ela estava presente... e curiosamente perguntei:
"_ Maria, porque você está em todos os quadros?"

Ela sem cerimônia, respondeu:
"_ É que eu me amo"!


* As Marias são de criação exclusiva de Lu Cavichioli*
todos os direitos reservados

by Lu C.


2 comentários:

  1. Oi Lu, Fiquei encantada com seu blog! Parabéns! O meu eu fiz para meus alunos, meu objetivo é que eles possam ter o que ler na internet, por isso uso uma linguagem parecida com a deles, assim eles se interessam mais,rs... Obrigada pelo carinho em seu comentário, fiquei feliz. Um beijo!

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    1. Sandra, fiquei eu encantada por sua presença e leitura da minha Fábrica de Histórinhas.

      Espero que volte e deixe seu parecer, ok?

      Quanto ao teu blog, ele é fascinante justamente por vc alcançar um público alvo de grande valia: A INFÂNCIA - onde tudo acontece e fica ali batendo fundo.

      Sim, sua linguagem é do mesmo tamanho do entendimento deles, isso é seu grande diferencial, amiga escritora.
      Você vai longe querida Sandra, parabéns por seu trabalho que constrói e soma.

      bacios bella!!

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