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segunda-feira, 19 de março de 2012

Revirando a Memória

31 de dezembro de um feliz ano velho


Um texto recuperado lá do fundo (falso), acho, do meu baú! Hehehe...

Era o último dia do ano e as músicas napolitanas cantavam em fitas K-7 em meu gravador AIWA.

Vozes masculinas comentavam sobre a corrida de São Silvestre, um privilégio dos homens ( ainda - tão somente).

Os engradados de cerveja eram retirados do carro e as garrafas (bem lavadas), coisa da minha mãe, claro, tomavam acento na geladeira.

Eu  e o Afonso, meu primo mais velho, ríamos de nossas brincadeiras infantilizadas em nossa juventude bendita e santa. Brincadeiras estas que felizes, repousam no convés do passado em marés distantes. Ah, quanta saudade!

Minha avó e minha mãe compunham um dueto a quatro mãos na confecção dos quitutes que fartariam nossa mesa no reveillon  de um ano velho que insistia em ficar idoso, mesmo antes de nascer. (coisa esquisita isso , não?)

Logo mais chegariam minhas tias e a “primaiada” ficaria completa.

Meu pai quebrava nozes em nosso bale particular e meu avô ajudava no esvaziar das garrafas de cerveja. Meu tio mais novo chegava (esbaforido), carregando o Moisés com a mais nova integrante da família, a prima Claudinha.

Eu, um tanto ansiosa , em meus 22 anos, espiava de quando em vez ali pela janela da sala, pra ver se meu namorado apontava lá na esquina.

As iguarias iam sendo enfileiradas na mesa e no balcão da cozinha.

Se eu quisesse agora, poderia ouvir e ver ,(como ouço e vejo), as vozes, os sorrisos, os abraços, a felicidade, o amigo secreto com mico e tudo se alguém errasse ... E de fundo o assobio do meu velho avô e suas cançonetas napolitanas...

A torta de salame e queijo branco (tradição da família) saía do forno, garbosa, exibindo aquele aroma italiano do orégano.

O tender e os frangos de leite que só minha avó sabia temperar, coser e decorar eram colocados em bandejas no centro da mesa e tudo ia sendo rabiscado com o giz do amor e da união. Tudo isso se aglomerava às sobremesas inesquecíveis da tia Isaura e as decorações surreais da tia Lia.

Os gritos dos primos mais novos que corriam na folia da infância juntavam-se com as gargalhadas dos adolescentes e como em uma moldura ficavam estampadas nas paredes  da casa de pastilhas verdes que tudo viam e registravam.

Nós nem nos importávamos com o tempo, esse  ladrão de idades ,que nos assaltaria em silêncio juntamente com o destino pregando-nos peças sem pedir licença ano após ano. Desenhando traços em nossos rostos, colorindo de paz alguns fios de cabelo, desabrochando rosas e murchando tantas outras.

Com esse tal de tempo a modernidade cresceu tornando-se uma moça soberba e lúdica, de olhar horizontal  e mãos carpideiras. Suas ideias foram tomando conta do tempo e, das “velharias”, fez  retalhos, que guardou em  algum cofre sepultado pelo chumbo ardiloso do esquecimento.

Essa moça, ( a tal Modernidade), trouxe com ela um filho chamado Progresso que teve uma filha chamada Tecnologia. E essa “família” furtou de certa maneira os valores outrora ensinados. Devo me lastimar? Acho que não, porque assim caminha a humanidade  disse alguém em algum dia, a passos de formiga e sem vontade(...)

Adeus ao admirável mundo novo...

By Lu C.

Em tempos outros

14 comentários:

  1. Gostei..."recordar é viver"; que tempos felizes! Me lembrei da minha família, quando todos se reuniam, meus pais ainda vivos, e O TEMPO LEVOU *
    Foi bom te ler, agora.
    Beijinhos

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  2. Ficou lindo o texto e trouxe saudades.Beijos.

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  3. QUERIDA, QUANTA COISA DELICIOSA PRA SE GUARDAR NA MEMÓRIA, DEU ATÉ SAUDADES DOS MEUS FINS DE ANOS DE QUANDO EU ERA CRIANÇA,SEM PREOCUPAÇAO NENHUMA DO QUE ACONTECERIA ANO APÓS ANOS.

    LINDO TEXTO. DE REFLETIR.

    BJS!

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  4. Amiga Lu, gostei do teu conto. Muito bom! Parabenizo-te!
    Um abração. Tenhas uma linda semana.

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  5. Olá Lu! Que linda lembrança e história. São momentos que ficam pra sempre em nossa vida! Seja muito feliz... obrigada sempre pelo carinho e apoio. desculpe a falta! Problemas com conexção. Estou tentando resolver e voltando com as visitas. Bjos e boa semana!

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  6. Vivi tudinho. Tava aí acompanhando cada momento desse, não me viu não?

    Coisa mais linda de se ler, garota!
    Adorei.
    Beijo!!!

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  7. Memórias. Riquezas que os anos não roubam, pois são passagens de ida e volta para deliciosas viagens pelo tempo... belíssimo texto.
    Beijos, Lu.

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  8. Ler suas relíquias retiradas do fundo do baú faz produzir hormônios que dão prazer e bem estar. Amei..o efeito foi muito bom! beijos e te adoro.

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  9. Meus queridos:

    Mery
    Arnoldo
    Patty
    Dilmar
    Cidinha
    Milene
    RR
    Rose

    Como fiquei feliz em tê-los aqui, compartilhando um fragmento da minha vida. Poxa, foi demais mesmo!!
    Obrigada

    meu afeto - sempre
    bacios da Lu
    :)

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  10. Lu, que precioso baú você tem!
    Após ler seu texto, podemos fechar os olhos e ouvir as vozes de nosso próprio passado. E nem é saudosismo, porque lembranças felizes guardamos com carinho.
    Mas que as transformações e o progresso nos roubam preciosidades, tenho que admitir, por maiores que sejam os benefícios que nos tragam.

    Grande beijo!

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  11. Querida Mari, nossas lembranças são escritas com sal suor e lágrimas e como tatuagens infiltram-se nos poros. Se fazem mal nau, sei dizer, mas que fazem a gente sonhar e voltar no tempo sentindo sensações únicas, deve ser bom né não?

    meu carinho a ti, amada!
    bjs
    Lu C.

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  12. O que me parece é que essa modernidade nos tornou insatisfeitos e insaciáveis.Porque nos deixa com menos trabalho, mais comodidade, mais independentes e mais solitários. Logo mais infelizes.
    Um abraço e tudo de bom para si

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  13. Passei para desejar-lhe um lindo fim de semana, beijos.

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  14. Vim revirar a memória com vc, por um tempinho.
    Beijo grande!

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