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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Razões do Coração Cena V e Epílogo


Depois de refazer suas energias Rose dividia um café com o pai ali no refeitório. No rosto ainda trazia resquícios da visão que tivera no jardim.

Pai e filha continuavam em silêncio respeitando as fronteiras do coração até que Suzel adentrou ao salão acompanhada por uma meninota de passos delicados e face cabisbaixa, aproximando-se rapidamente.

Sem conter a ansiedade seu Carmo foi o primeiro a olhar e logo abriu um sorriso largo. Em seguida, girando sobre o calcanhar, Rose deparou-se com a garotinha.

_Muito bem senhores, esta é Angélica, nossa pequena artista.

Rose levantou o rosto lentamente e os olhos cor de mel de Angélica encontraram os seus. Num breve  e doce sorriso Rose estendeu sua mão em direção a ela que prontamente entregou a sua. As peles se tocaram e Rose sentiu um iceberg no estômago.

_Oi Angélica, como vai você?

_To bem, é a senhora que vai me levar daqui?

Seu Carmo estava com os olhos marejados e um leve tremor de mãos e, pelo que sabemos dele, a emoção já o tinha tomado por completo.

-Eu acho que sim, não é mesmo Suzel?

_Perfeito Sra. Rose!

_Quantos anos tem Angélica?

-Tenho quatro, mostrando a idade com os dedinhos ...

Tudo foi muito rápido nesse encontro e enquanto seu Carmo saía com Angélica pela mão, Rose acertava os últimos detalhes com Suzel :

... - Sim, está tudo certo e o retorno da menina fica para o dia primeiro de janeiro.  Aqui nesta maleta estão as roupas e pertences dela.

Feliz Natal e um ano novo cheio de paz, e que a senhora continue conservando esta generosidade que demonstrou.

Obrigada Suzel por sua atenção, nos vemos no ano novo. Feliz Natal!

Rose saiu rapidamente indo para seu carro e enquanto seguia percebeu que seu pai e Angélica  já pareciam íntimos, justamente pelas risadas trocadas e os gestos que sugestionavam alguma brincadeira.
Angélica era uma menina alegre, mas tinha alguns momentos de melancolia que logo foi notado ali mesmo no caminho para casa.
Seu Carmo ia atrás com ela e logo percebeu sua mudez, então puxou conversa:
_Angélica, a tia Suzel disse que você é uma artista, é verdade?

A menina levantou os olhinhos , agora tímidos, respondendo um sim mudo.

-E o que você faz para ser uma artista?
-Eu gosto de pintar e fazer colagens. Gosto de consertar coisinhas quebradas. A tia sempre deixa nosso material na mesinha e a gente vai pegando o que quer. Eu gosto da cola e das tintas brilhantes.
-É mesmo. E onde faz isso?
- Nas aulas de ocupacional... Ai... Esqueci o nome Sorrindo encabulada.

-Seria Terapia Ocupacional - disse prontamente Rose.

-É tia, isso mesmo! E eu sei cantar também e adoro ouvir historinhas.
Via-se que Angélica tinha deixado a melancolia de lado e sua felicidade pintou de paz sua face. E ela desandou a falar.
-Tia, você está me levando pra sua casa?
-Sim, meu bem. Você vai passar o natal com a gente.
-E vou ganhar presente e morar lá com vocês né?
Dentro da cabeça ingênua daquela criança ela fantasiava e a vida dela seria de agora em diante esta família. Embora soubesse por Suzel que iria passar somente o Natal e a festa de reveillon.
As crianças têm normalmente essa capacidade de sonhar inocências e acreditar nelas. Construindo assim seu mundo particular com surpresas e momentos felizes.
Rose foi contundente nessa hora, apesar de seu coração contrariá-la.
_Não Angélica! Você não pode morar conosco, porque sua casa é lá no orfanato com aquele montão de amiguinhos que você tem. A tia Suzel não te falou sobre isso?
-Falou sim, mas é que eu - a melancolia voltava, e seu corpo começou a falar enquanto ela ia aninhando sua cabeça no peito de seu Carmo.
Ele, percebendo a situação a abraçou dizendo:

- Ei pequena artista, que tal um pirulito? - Em seguida tirou do bolso um daqueles pirulitos grandes e coloridos que grudam nos dentes pintando aquarelas nas roupas proporcionando arruaça de doces alegrias.



-Oba, que bonito esse pirulito. É todinho pra mim?

-Sim querida, todo seu.
Já tinha passado do meio dia quando chegaram em casa. O aroma da torta de batata recheada com carne moída invadia a garagem, misturando-se com o pudim de caramelo que estava saindo do forno.
Alice ouviu o ronco da caminhoneta do avô e saiu em disparada para encontrá-los na escadaria que dava acesso à entrada de serviço. Estava tão esbaforida que nem ouvia o chamado do pai.



Quando ela chegou ao topo da escada viu a mãe carregando duas malas e uma boneca de pano chacoalhando os cabelos de lã vermelha. Logo atrás viu seu avô de mãos dadas com Angélica. O sorriso estampado encolheu e ela proferiu:

Ah, você trouxe a menina que mora sozinha pra morar aqui?
_Quieta Alice! Já te explicamos, e vê se muda essa cara, essa é Angélica. Ela vai passar o natal com a gente e vocês serão boas amigas, ok?
Angélica olhou diretamente nos olhos de Alice e tomando coragem disse:
-Oi, você viu meu pirulito? Foi o vovô que me deu.
-O seu avô veio também - cadê ele?
Todos riram desse pequeno diálogo - porém as meninas ainda estavam travando uma batalha velada.

_ Não sua boba, esse vovô aqui - pegando na mão do seu Carmo.

Alice fez careta e completou:

Bobinha é você, e esse avô é MEU!

CHEGA! Interpelou Marcos. Vamos pra sala de visitas terminar de enfeitar a árvore de natal o que acham?

Rose e seu Carmo respiraram fundo meio aliviados porque no ar alguns mísseis ainda saracoteavam.


Epílogo
As meninas ficaram tão amigas que uma não desgrudava da outra e dividam tudo como almas gêmeas.

A noite de natal havia chegado e a casa estava toda iluminada e o pinheiro de Rose fazia as honras.


A mesa central vestia roupa de festa e as iguarias de Tiana anunciavam que a ceia seria inesquecível.
Rose e Marcos estavam terminando de se arrumar quando o celular dela toca. Marcos atende. Mudo do outro lado. Ele desliga.
Toca novamente. Rose atende.
-Alô, alô... - FELIZ NATAL - a voz pronunciava.
-Quem é?
-Sei que você sabe, mas não quer mais se lembrar. Mas saiba que vou te amar eternamente... Ligação encerrada.
Rose caiu sem forças na poltrona.
-O que houve amor?
-... Ai... Marcos me traga um copo com água, por favor.
Depois que Marcos saiu, Rose caiu num sono profundo e sem propósito e então  deu-se o seguinte enredo em sonho:
"O ambiente era claro, porém nebuloso. Havia vozes misturadas e Rose viu-se deitada em uma maca. Sentia náuseas e chorava... Alguém segurava sua mão enquanto um dos vultos ao seu redor dizia:
-FIZEMOS TODO O POSSÍVEL... ISSO É UMA FATALIDADE! VAMOS SEDAR A MÃE, RÁPIDO!
Quando se recuperou lhe contaram que a criança havia nascido morta e sufocada pelo cordão umbilical. A tão esperada e desejada Ana Teresa voltava para o jardim das crianças/anjos.
Após seu completo restabelecimento físico e psicológico ela ficou sabendo que nunca mais poderia ter filhos porque seu útero não contraiu após o parto e precisaram retirá-lo."
Nesse momento ela abriu os olhos e como num relâmpago tudo veio à tona novamente... E ela chorou todas as lágrimas que uma mulher armazena durante a vida.
Esse transe durou segundos e parecia uma vida inteira. Marcos já estava a seu lado com o copo d’água.
-Querida o que houve agora?
Foi ela Marcos... Foi ela, tenho certeza...  Nossa Ana Tereza!
Ela veio até mim e agora acho que encontrei a paz de que precisava.
Marcos a abraçou sem proferir palavra alguma e ali dividiram a dor.
Quando desceram, Rose viu Alice e Angélica abraçadas perto do pinheiro que parecia brilhar mais naquela noite, e sentiu um amor  incondicional pela órfã como se fosse sua cria.
Ali estava seu presente de natal - sob a árvore- junto de Alice.
No dia primeiro de ano ao entardecer Angélica já era parte integrante da família.
FIM

*Tudo pode acontecer quando nosso coração se torna dilatado pelo AMOR!
By Lu Cavichioli
Outono de 2013
São Paulo











8 comentários:

  1. Olá, Lu. Fiquei feliz que a menininha tenha sido adotada, afinal... sabe, eu não sei se aprovo esta ideia de pegar crianças em orfanatos e levá-las para passar o natal, pois exatamente como a Angélica, as crianças constroem fantasias... acho que elas ficam muito tristes ao terem que retornar ao orfanato, após presenciarem como é a vida em uma família. Linda a sua história, adorei ler! Bom final de semana!

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    1. Oi Ana, eu não consegui devolver a menininha ao orfanato rs. Fiquei tão envolvida com a história dela e de outras crianças que lá vivem e resolvi dar esta felicidade a ela e também à família que tanto precisava preecher o vazio da irmãzinha de Alice.

      Concordo contigo quando diz que é triste dar a elas o gostinho de uma vida em família e depois acordarem do sonho. Mas em contrapartida há aí grandes possibilidades dessas crianças serem adotadas, não acha? E penso também que a experiência vivida na casa das pessoas fortalecem essas crianças de alguma maneira... Não sei, posso estar enganada, enfim... É questão de opinião.

      Obrigada Ana, por acompanhar minha história e dar teu parecer, que já entrou para o rol de meus favoritos.

      beijo e ótimo fim de semana !
      :)

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  2. Lu,

    Tirei a manhã (todinha...) especialmente pra vir aqui ler todas as Cenas do conto, e, assim, degustar de uma só vez essa história linda!
    Menina, esse final inesperado fez-me arrepiar inteira! O modo impactante (e que adoro!) de vc fazer a pequena Angélica tornar-se parte integrante da família, não poderia ter sido melhor!! Vc não poderia ter dado melhor desfecho. Amei muito!
    Nostálgico e realista, para quem crê que anjos como a nossa pequena Maria Tere(z-s?)a voltam para consolar algum membro da família, está perfeito!!!!!!!!!!
    E penso tb que levar uma criança para passar apenas alguns dias com a família, na minha opinião deveria estender-se para dias comuns, "normais", como por exemplo, dias letivos escolares. Assim, a menina não só realiza as fantasias (com as luzes, o deslumbre e a magia das festas de final de ano), mas tb poderia frequentar uma escola, irem juntas - Angélica e Alice - pra essa escola, para a feira, comprar coisinhas comuns de meninas...assim!!
    Sabe, Lu?
    Me vi agora completamente transportada para minha infância, com meus pequenos e inocentes ciúmes...
    Me vi tb quando minhas amiguinhas (e até priminhas) me dirigiam olhares fulminantes de "ódio", porque tinham (muito) ciúme de mim...!!!
    Enfim, o que dizer agora, que li a sua linda história por inteiro? Somente te aplaudir. E te dar, uma vez mais, meus parabéns!

    Bacios, caríssima contista.

    *****

    * Graças a Deus, miga, já corrigi mais da metade dos oito itens na monô. Obrigada pelas orações! Logo, logo vai ser só festa e comemoração!rs

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    1. Gracinha do meu cuore, eu nem espera por ti aqui sabia? justamente por causa da monô rs. Surpresa feliz ver e LER teu coment.

      Vamos falar o nome da anjinha primeiro kkkk Ana Tereza. Sim miga, ela veio até a mãe para aquietar-lhe o coração que, somados à idéia de seu Carmo culminaram neste final que eu não tinha nem idéia, acredite. Ele surgiu na cachola ontem de noite e aí fui elaborando.

      Sim miga, concordo também com a idéia de levar as crianças em dias comuns. Mas não sei se alguém tem essa sensibilidade que nós aqui demonstramos.

      O ciúme é um grande vilão. Fico imaginando uma criança que tem tudo dentro de casa e aparecem com outra que tem uma realidade totalmente diferente. É complicado demais.

      Contudo eu fico muito grata por sua leitura e seus minutos preciosos que conferiu a mim. MUITO OBRIGADA!

      kisses my dear!
      :)

      *SORTE COM A MONÔ - VAI DAR TUDO CERTO. VC É FERA!
      Deus só vai derramar a benção Dele.


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  3. Eu já havia imaginado que a criança encontraria, naquela casa, um lar. Como narrar a devolução dela ao orfanato, sem provocar lágrimas? As mesmas que ela derramaria, após dias de afeto, em lugar onde se sentia valorizada e importante? Esse é o sonho de todas que vão passar as festas de fim de ano com alguma família. Infelizmente, ainda é muito difícil adotar uma criança, no Brasil. Sem contar que os candidatos optam por bebês.
    Amei seu conto. E esse contato sobrenatural eu não descarto, na vida real.
    Grande beijo!

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    1. Pois então Mari, eu pensei em dois finais e depois em um terceiro, mas iria demorar mais pra terminar o conto que (pro meu gosto), já estava muito longo. Então achei por bem trazer Angélica pra junto da família.
      Eu gosto de finais felizes, num tem jeito! rs

      Você disse uma verdade: "Os candidatos optam por bebês" - e as maiores vão ficando para trás.
      Ah, o contato sobrenatural... Ele existe, também creio.

      beijo grande e obrigada por compartilhar meu conto.

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  4. AIII LU, QUE LINDOO
    SERIA CRUEL DEMAIS TER QUE DEVOLVE LA, TADINHA NE? AINDA MAIS QUE FICARAM AMIGAS, AS DUAS SOFRERIAM, É MTO GOSTOSO PODER LER FELICIDADE, E ADOREI MASI AINDA NO CAMINHO TER UM CERTO SUSPENSE NO QUAL A SENHORA CONSEGUIU ME CONFUNDIR, E EU AMEI A REVOLUÇÃO.

    SABE EU NÃO ME LEMBRO MAS MINHA MÃE CONTA QUE EU TINHA 4 ANOS QUANDO NASCEU MINHA IRMÃ, A FERNANDA, EU FIQUEI MUITO ENCIUMADA. MAS QUANDO VEIO A JU, A CAÇUL,A EU NÃO LIGUEI, ATÉ AJUDAVA MINHA MÃE, E DEPOIS NEM LIGAVA MUITO, E COMO SEMPRE FUI MTO DESENCANADA É ELAS QUE TINHAM CIÚMES DE MIM. NEM DAVA ATENÇÃO A ELAS TAMBÉM, FOMOS FICAR AMIGAS QUANDO ESTAVA PERTO DE ME CASAR, NÓS SEEMPRE FOMOS DIFERENTES, MINHAS AMIZADES ERAM FORA DE CASA, E SEMPRE ME RELACIONEI MTO BEM COM AS CRIANÇAS DE FORA, TALVEZ SE VIESSE UMA ANGÉLICA PARA BRINCAR COMIGO, EU ADORARIA, OU MELHOR, UM MENINO, POIS SÓ COM ELES EU SABIA BRINCAR, RSRSRS.

    ADOREI LU,QUANDO COMEÇAR OUTRO ME AVISE.
    BJS,

    PATTY.

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    1. rsrs, verdade Patty. Seria cruel levar Angélica de volta, mas tem gente que faz isso.Eu já presenciei.

      Mas que bom, você participar das emoções da história. Adoro quando vens e dá tua opinião sempre tão vivaz e real.

      bacios bella

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